Arquivo mensal: abril 2009

Aerotrio (2006) – Aerotrio

Padrão

aerotrio

Aí está o primeiro álbum dos paraibanos do Aerotrio. Um pouco de palavras oficiais:

Lançado em 2006 e gravado com recursos do FIC Augusto dos Anjos (Fundo de Incentivo à Cultura), o 1º disco da banda foi produzido por Lindenberg Oliveira. São 10 canções autorais, onde as influências por ritmos e estilos musicais vão do Samba-Rock e Bossa Nova até a fusão Acid Jazz e Música Eletrônica.”

O grupo começou em meados de 2003, e continua na correria – infinita e truncada – que é tentar fazer da música atividade exclusiva no Brasil. Falar de sua sonoridade e influências seria antecipar o prato cheio – que ta aí pra quem quiser; são todas músicas muito bem tocadas e inteligentes, com uma formação um pouco unusual – bateria, teclados e contrabaixo.

(só um adendo – estou feliz pela Paraíba: Aerotrio e Burro Morto…)

Download: Clique aqui

Symphony N°6 (Devil Choirs At The Gates Of Heaven) (1989) – Glenn Branca

Padrão

Lá vamos nós para demonstrar um desses casos-limite onde as definições se misturam…

Reparem no charme de Glenn Branca

Glenn Branca é um compositor que talvez possamos chamar de erudito, o que equivale a dizer que sua obra tem alguma significação acadêmica ou que, de algum modo, toma parte de uma discussão acadêmica do desenvolvimento musical. Entretanto, somente recentemente (isto é, na segunda metade dos anos noventa) recebeu atenção da academia, sendo contado como um dos membros da escola totalista do pós-minimalismo… Certo, mas e daí?

A questão é que a carreira de Branca não parte da música erudita. Tendo aprendido a tocar guitarra aos 15 aos de idade, Branca começa compondo para o teatro, em performances de grupos dos quais ele fazia parte. Quando se muda para Nova Iorque, em 76, entra em contato com a cena no-wave local (isso mesmo, a mesma cena que deu origem ao Sonic Youth, banda que sofreu forte influência de Branca) tendo participado como membro das bandas Theoretical Girls e The Static.

devil-choirs

Mas é nos anos oitenta que a coisa começa a ficar interessante de verdade: a partir de sua experiência com o no-wave novaiorquino, Branca passa a compor para conjuntos formados basicamente por várias guitarras elétricas e percussão (i.e. bateria), mesclando sua influencia de compositores modernos e pós-modernos (sobretudo LaMonte Young) com uma linguagem “rock” vinda do no-wave, trabalhando com idéias relacionadas ao volume, afinações alternativas, micro-tonalidade, droning e series harmônicas, sendo considerada música de vanguarda ou, como ele mesmo a define, experimental. Suas composições são cheias de tensão ou, mais propriamente, extremamente densas, ao ponto de John Cage tê-la vinculado a idéias de mal e poder chegando a referir-se a ela como ‘fascista’. Mais tarde, Branca chega a compor para instrumentos elétricos criados por ele e até para orquestras convencionais (embora sua música não jamais seja convencional).

É ao conjunto das peças para guitarra elétrica que pertencem a maior parte de suas sinfonias (que não são compostas para orquestra sinfônica e tampouco seguem a forma-sinfonia) e é uma delas que disponibilizo aqui, mais precisamente a de número 6, também chamada de ‘Devil Choirs At The Gates of Heaven’. A versão aqui disponibilizada foi executada por 10 guitarras, baixo, teclado e bateria. O termo sinfonia aqui serve para representar a grandiosidade da obra onde, no correr de seus cinco movimentos, as diversas camadas de guitarra desenham texturas, ritmos e uma diversidade de ruídos unusuais, tudo acompanhado por uma bateria simples e insistente.

São poucas palavras para descrever um trabalho cheio de riqueza e poder, sem dúvida digno de ser ouvido, sobretudo por quem se interessa em saber do que as guitarras são capazes.

Download: Clique aqui

Summit (Reunion Cumbre) (1974) – Gerry Mulligan & Astor Piazzolla

Padrão

gerry-mulligan-astor-piazzolla-tango-nuevo-1

*Existem diversas versões dessa gravação, com diferentes encartes, o presente aparece com o nome “Tango Nuevo”

1. Twenty Years Ago  (Hace Veinte Años )
2. Close Your Eyes And Listen (Cierra Tus Ojos y Escucha )
3. Years Of Solitude (Años de Soledad )
4. Deus Xango (Deus Xango)
5. Twenty Years After (Veinte Años Después )
6. Aire De Buenos Aires (Aire de Buenos Aires)
7. Reminiscence (Reminiscencia )
8. Summit (Reunión Cumbre)

Astor Piazzolla: bandoneón; Gerry Mulligan: sax barítono; Angel ‘Pocho’ Gatti: teclados, Tullio De Piscopo: percussão, Giuseppe Prestipino: baixo elétrico; Alberto Baldan e Giani Ziloli: marimba; Filippo Dacco e Bruno De Filippi: guitarra; Umberto Benedetti Michelangeli: violino; Renato Riccio: viola; Ennio Miori: cello.

Ástor Pantaleón Piazzolla e Gerry Mulligan (e seu conjunto) se unem nesse experimento absurdamente expressivo,com grande precisão entre todos os instrumentos, que traz fortes características do jazz , assim como do tango (que se percebem mais na abstração, no sentido do som).A atmosfera criada pelo som do bandoneón de Piazzolla e do sax barítono de Gerry Mulligan é unica…

Download: Clique aqui

Neubauten? Test Department? Z’EV’s been there first.*

Padrão

Ao contrário do que se possa imaginar,  Stefan Joel Sweisser não é só mais um profeta-apocalíptico-psicótico vagando por imundas ruas de Los Angeles batucando em/com detritos urbanos a vomitar poesias escatológicamente místicas sobre nossas perplexidades. Há de se convir que também é um exímio percussionista e artista plástico – aos moldes de Cage e Schafer, inclusive, posto sua relação com as atmosferas sonoras.
Além do mais, foi aluno no California Institute of the Arts. Estudou Gamelão Balinês com Robert Brow, Tala com Hari Har Rao, Poesia Sonora e Visual com Emmet Williams; manteve contato com vários artistas do movimento Fluxos, etc, etc, etc…
Curiosamente, tem havido relativa profusão de informações sobre Z’ev na web – não ousarei me alongar entrando na questão de possíveis porque’s desse fenômeno – seja como for, basta ler um pouco sobre o precursor da música industrial para logo se perceber que, seja qual for o seu intento e/ou sua plataforma de manifestação artística, ele age sem contar com a opnião alheia, como quem gritasse aos transeuntes assustados pelo desconhecido:
– “Bust this!”

Download: Clique aqui

*Jason Pettigrew

Hermeto (1972) – Hermeto Pascoal

Padrão

Faixas

1. Coalhada
2. Hermeto
3. Guizos
4. Flor Do Amor (Jose Neto Pascoal)
5. Alicate
6. Velório
7. As Marianas
8. Fabiula

Músicos

Joe Farrell, Jerry Dodgion, Arthur Clarke, Hubert Laws, Maurice Smith, Harold Jones, Leon Cohen, Jerome Richardson – woodwinds
Garnet Brown, Wayne Andre, Jack Jeffers, Richard Hixson – trombones
Thad Jones, Joe Newman, Gene Young, Ernie Royal, Melvin Davis – trompetes
Don Butterfield – tuba
Ron Carter – baixo
Airto Moreira – percussão, bateria
Flora Purim – vocal

Download: Clique aqui

Nascido em 1936, no interior de Alagoas, Hermeto Pascoal começou sua vida musical tocando uma sanfona de oito baixos. Aos onze anos já tocava num “conjunto de baile”, junto com o irmão. Enveredou pelo multi-instrumentismo, aprendendo a tocar flauta, sax, clarinete, sempre auto-didata.

Em meados da década de 60, passou temporadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde integrou o Quarteto Novo (junto de Theo de Barros, Heraldo do Monte e Airto Moreira) durante três anos. À essa época, grava participações em discos de diversos artistas, como Bobby Mackay, Airto Moreira e Flora Purim. Em 1972, grava seu primeiro disco “solo” (na verdade acompanhado de uma orquestra), “Hermeto”, lançado nos EUA. Somente no ano seguinte lança seu primeiro LP em terras brasileiras, no qual inclui versões para “Carinhoso” e “Asa Branca”. Desiludido com o tratamento dispensado pela crítica e gravadoras daqui, parte em extensa turnê pela Europa e EUA. Na volta ao Brasil, monta grupo com irmãos e amigos, gravando somente por um selo independente. Em 1977, muda-se para casa em Jabour, subúrbio do Rio de Janeiro, com amplo espaço para dar vazão a seu experimentalismo. É dessa época “O Grupo”, que ensaiava (e compunha) diariamente na casa e que durou boa parte da década de 80. Posteriormente, compõe um “anuário musical”, com a intenção de “homenagear todos os aniversariantes do mundo, indistintamente”; uma música para cada dia do ano, manuscritas independente de onde estivesse.

O disco que posto aqui é o de 1972, “Hermeto”. Percebo aqui uma abordagem jazzística, de temas e solos, que deve ter facilitado a introdução do disco na América do Norte. Não que seja um disco de “easy listening”; o álbum traz, por exemplo, uma peça experimental (“Velório”) recheada de vozes e murmúrios, rabeca e pífano, explicitando referências nordestinas. Além disso, os arranjos de Hermeto transformam qualquer estrutura melódica previsível em motivo pra experimentar e modificar. O uso da voz dá-se apenas como mais um belo elemento instrumental, como em “Guizos”.

Hermeto liberou, recentemente, o uso de qualquer canção sua e, junto de sua companheira, Aline Morena, começou a saga de disponibilizar toda sua obra para download.

O tal anuário musical encontra-se, para visualização parcial, aqui. O espaço oficial do Hermeto na internet é esse. Um artigo acadêmico sobre Hermeto e, mais especificamente, sobre a casa em Jabour, você pode ler aqui. E uma esclarecedora entrevista com Jovino Santos Neto, membro d’O Grupo, encontra-se aqui (em inglês).

O arquivo vem com as capas das diversas edições do disco, além de um .doc com alguns textos e informações. Retirado originalmente do blog Abracadabra – LPs do Brasil 2, com ligeiras modificações.


What Burns Never Returns (1998) – Don Caballero

Padrão

wbnr1

1. Don Caballero 3
2. In the Absence of Strong Evidence to the Contrary, One May Step Out of the Way of the Charging Bull
3. Delivering the Groceries at 138 Beats per Minute
4. Slice Where You Live Like Pie
5. Room Temperature Suite
6. The World in Perforated Lines
7. From the Desk of Elsewhere Go
8. June Is Finally Here

Músicos/Line-up:
Ian Williams – Guitarra
Mike Banfield – Guitarra
Pat Morris – Baixo
Damon Che – Bateria

Esse é o terceiro disco da banda Don Caballero (Pittsburgh,Pensilvânia) lançado em 1998 , ainda em sua primeira formação.

Uma viagem em que os aspectos da musica se inclinam sob o rítmo.O ruído assume um papel importante ,como reflexo da paisagem sonora totalmente ruidosa,rompendo com o discurso tonal.Uma brisa…

Download: Clique aqui

The Mix Up (2007) – Beastie Boys

Padrão

beastie-boys-the-mix-up-advance-2007

1 – B for My Name

2 – 14th St. Break

3 – Suco de Tangerina

4 – The Gala Event

5 – Electric Worm

6 – Freaky Hijiki

7 – Off the Grid

8 – The Rat Cage

9 – The Melee

10 – Dramastically Different

11 – The Cousin of Death

12 – The Kangaroo Rat

Taí o último disco do Bestie Boys – Mix Up, de 2007. Nossa! Um disco dos Beastie Boys num blog de música instrumental? É! Isso mesmo! Essa catarse não tem letras, apenas murmúrios das jams dos boys nas sessões de gravação, e só. O resto (que na verdade é tudo) soa com as influencias de toda carreira. Muito funky, dub, jazz, rock, tudo num formato pop, transbordando competência em pós – produção. Digno desses 3. O disco, além dos rapazes Adam Horovitz, Adam Yauch e Mike D, conta também com a piscodelia de Mark Nishita, vulgo Money Mark e Alfredo Ortiz na percussão.
Descontrução total de temas e ritmos dos mestres da desconstrução.
Baixe, Ouça!

Download: Clique aqui

Flipside (aka “Orange”) (2004) – Hypnotic Brass Ensemble

Padrão
Flipside (aka Orange) - capa

Flipside (aka "Orange" - 2004) - capa

1. Satty
2. She
3. Frankie mae
4. Loudmouth
5. Flipside
6. 1347
7. Caravan
8. Reggae
9. Todd

O primeiro disco é dos irmãos de Chicago do HBE; são 9 caras sendo que oito são filhos do Phil Cohran (aquele que tocava trompete na lendária Sun Ra Arkestra). A formação é de 8 sopros e uma bateria; o resultado é de fato hipnótico. Esse é o primeiro álbum deles, conhecido por “Orange”.

Download: Clique aqui

Da capo!

Padrão

Mais um início; nascimento de outro projeto.

Junto com alguns amigos – sempre eles! – inauguro as atividades do recém batizado “Boca Fechada”. A idéia inicial – grosso modo – é um blog sobre música instrumental, com downloads e informações; a partir de práticas e debates esperamos ir esclarecendo este conceito (inclusive pra nós mesmos) que não é tão simples como pode parecer à primeira vista.

Na postagem seguinte disponibilizo o primeiro disco para download (todos com link no Rapidshare), inaugurando de fato o Boca. A guisa de introdução subo um texto de meu companheiro Andredeva; anotações que nasceram e foram lapidadas após nossas primeiras conversas acerca do projeto.

Quando Djalma me propôs a participação em um blog sobre música instrumental uma de minhas primeiras perguntas foi “Um quarteto de trompetes tocando as mesmas notas por vários compassos conta como música instrumental?”e a resposta foi “Sim, do mesmo modo que as peças do Villa-Lobos contam”. Ora, a pergunta pode parecer tola, mas cumpria bem o seu papel de avaliar qual o conceito de música instrumental em voga no blog. Pra ser específico, tinha em mente a peça “The Second Dream of The High-Tension Line Stepdown Transformer” de LaMonte Young, provavelmente a maior (em extensão e significado) peça drone do minimalismo, uma peça que beira a abstração total. Em jogo, temos pelo menos duas questões importantes: a da chamada música erudita e a da chamada música abstrata. Ainda sem entrar na crítica discussão a respeito do conceito de música erudita, as afirmações “eu gosto de música erudita” e “eu gosto de música instrumental” tem, usual e literalmente, sentidos diferentes. Literalmente, música instrumental inclui a maior parte da música erudita. Com exceção talvez de operas, cantatas, lieds e coisas do gênero, a música erudita é executada por instrumentos sem participação da voz humana. Aqui temos uma distinção importante: a voz, do ponto de vista musical, é, ou pode ser, [utilizada como] um instrumento.

Enquanto definição, o que ‘musica instrumental’ define? A pergunta pode ser também entendida como ‘a que outro conceito ela se opõe?’. Do mesmo modo que a música erudita se opõe a música popular (e, mais uma vez, estamos sendo simplistas, sem pretender dar a uma questão tão controversa uma resposta definitiva), aparentemente, a musica instrumental se opõe ao que poderíamos chamar de ‘canção vocal’ ou ‘canção lírica’ (para distingui-la do conceito de ‘canção instrumental’), onde há um discurso verbal sendo veiculado através da música. Abrem-se, então, varias questões. A primeira delas é quais são os critérios que devem ser usados para distinguir quando o uso da voz é instrumental ou verbal. Outra ainda é a posição de posição de músicas de teor predominantemente instrumental onde ainda existe o uso verbal da voz, como, por exemplo, peças instrumentais com poesias recitadas durante sua execução.

Em geral, pode haver certa estranheza no uso do termo ‘musica erudita’ para designar a música folclórica ou quanto a gêneros muito específicos, onde o caráter instrumental se torna difuso, isto é, quando a presença de um ‘discurso instrumental’ (especialmente de um discurso melódico) ou a idéia de movimento se torna questionável, como no caso das várias manifestações rotuladas como música experimental e em gêneros como a música ambiente, a música abstrata e a música concreta. Isso também levanta a questão dos aparatos eletrônicos, isto é, se para fins de instrumentalidade, estes contam como instrumentos, tanto no uso concreto de samples e tape-loops, quanto no uso melódico de seqüenciadores e osciladores. Se assim for, passamos a ter os mais diversos gêneros de música eletrônica (incluindo o techno o psy-trance) como gêneros de música instrumental. Pode-se ter a impressão de que o nome ‘música instrumental’ aponta, sobretudo, para um quinhão não-cantado daquilo que podemos chamar de música pop.

Entretanto, se a música instrumental se opõe exclusivamente a canção lírica, nada mais oposto à forma da canção do que a música abstrata e, mais do que isso, o interesse se torna ainda maior nos casos-limite, onde popular e erudito, acústico, elétrico e eletrônico, concreto e abstrato, se confundem.”