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Symphony N°6 (Devil Choirs At The Gates Of Heaven) (1989) – Glenn Branca

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Lá vamos nós para demonstrar um desses casos-limite onde as definições se misturam…

Reparem no charme de Glenn Branca

Glenn Branca é um compositor que talvez possamos chamar de erudito, o que equivale a dizer que sua obra tem alguma significação acadêmica ou que, de algum modo, toma parte de uma discussão acadêmica do desenvolvimento musical. Entretanto, somente recentemente (isto é, na segunda metade dos anos noventa) recebeu atenção da academia, sendo contado como um dos membros da escola totalista do pós-minimalismo… Certo, mas e daí?

A questão é que a carreira de Branca não parte da música erudita. Tendo aprendido a tocar guitarra aos 15 aos de idade, Branca começa compondo para o teatro, em performances de grupos dos quais ele fazia parte. Quando se muda para Nova Iorque, em 76, entra em contato com a cena no-wave local (isso mesmo, a mesma cena que deu origem ao Sonic Youth, banda que sofreu forte influência de Branca) tendo participado como membro das bandas Theoretical Girls e The Static.

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Mas é nos anos oitenta que a coisa começa a ficar interessante de verdade: a partir de sua experiência com o no-wave novaiorquino, Branca passa a compor para conjuntos formados basicamente por várias guitarras elétricas e percussão (i.e. bateria), mesclando sua influencia de compositores modernos e pós-modernos (sobretudo LaMonte Young) com uma linguagem “rock” vinda do no-wave, trabalhando com idéias relacionadas ao volume, afinações alternativas, micro-tonalidade, droning e series harmônicas, sendo considerada música de vanguarda ou, como ele mesmo a define, experimental. Suas composições são cheias de tensão ou, mais propriamente, extremamente densas, ao ponto de John Cage tê-la vinculado a idéias de mal e poder chegando a referir-se a ela como ‘fascista’. Mais tarde, Branca chega a compor para instrumentos elétricos criados por ele e até para orquestras convencionais (embora sua música não jamais seja convencional).

É ao conjunto das peças para guitarra elétrica que pertencem a maior parte de suas sinfonias (que não são compostas para orquestra sinfônica e tampouco seguem a forma-sinfonia) e é uma delas que disponibilizo aqui, mais precisamente a de número 6, também chamada de ‘Devil Choirs At The Gates of Heaven’. A versão aqui disponibilizada foi executada por 10 guitarras, baixo, teclado e bateria. O termo sinfonia aqui serve para representar a grandiosidade da obra onde, no correr de seus cinco movimentos, as diversas camadas de guitarra desenham texturas, ritmos e uma diversidade de ruídos unusuais, tudo acompanhado por uma bateria simples e insistente.

São poucas palavras para descrever um trabalho cheio de riqueza e poder, sem dúvida digno de ser ouvido, sobretudo por quem se interessa em saber do que as guitarras são capazes.

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