1. Penumbra
2. Collapse
3. Limbo
4. Blinder
5. Lumia
6. Silêncio
7. Antumbra
8. Umbra
Trazendo por aqui mais um lançamento da nova safra da música instrumental brasileira. Já comentei anteriormente que o momento do gênero é muito massa no Brasil. Bandas novas surgem de baciada, discos são gravados com qualidade, e estilos musicais distintos dentro da música instrumental dão o tom do momento. Nesse contexto, ainda na primeira década do século XXI, na Babilônia pauista surgiu o Herod Layne. De início um trio, e posteriormente um quarteto, os caras acabam de lançar Umbra, novo álbum que conta com diversas participações, maturou-se quase dois anos pra sair do forno e teve um belíssimo trabalho de produção.
A Herod Layne lançou em 2010 o disco Absentia, e de lá pra cá, além de diversos shows pelo Brasil, trabalharam na produção de Umbra. O período que ficaram trabalhando no disco, rendeu um belo e formoso fruto. Umbra é um disco muito maduro. Calcado no post rock, pos metal, drone e noise, as experimentações do quarteto estão concisas e as faixas dão uma noção narrativa ao disco. As 8 faixas de Umbra estão muito bem amarradas à temas soturnos e pesados que parecem nos levar aos lados e momentos sombrios de toda existência.
O disco foi disponiblizado na semana passada pra download, e você pode ouvi-lo, clicando aqui!
Pra coroar o lançamento de Umbra, trocamos uma idéia (via email) com o Herod Layne. Segue o papo:
Boca Fechada: Como foi o processo de produção de Umbra? Desde a idéia do crowd-funding, até o lançamento no ultimo dia 5?
Herod Layne: Umbra teve uma gestação de dois anos e alguns meses, se considerarmos as primeiras idéias e riffs criados. Na verdade, esse tempo longo se deve ao fato que, num primeiro momento, concebemos o álbum da maneira tradicional que sempre fizemos com os outros discos, e chegamos a um ponto de maturação suficiente para gravação da pré. Neste momento, criamos, desenvolvemos e disponibilizamos nossa própria plataforma de crowd-funding, o Buzzker, que nos trouxe bom retorno financeiro para seguirmos com um projeto ainda mais ousado: decidimos então não lançar o material gravado e envolver um produtor no trabalho. O Joaquim Prado, que já era nosso amigo de longas datas, surgiu na hora exata para topar esse convite. Aí foi quando de fato o Umbra que viria a ser lançado começou a tomar forma. O Joca desconstruiu não só os arranjos e as composições, mas a própria banda e seus equipamentos, e começou um processo minucioso de estudo e reconstrução com base no conceito do álbum. Foram levadas em consideração as influências musicais de cada membro, seus gostos em relação a timbragem e melodias, sua aptidão e conforto técnico com o instrumento e apetrechos… A banda se renovou e ressurgiu mais poderosa e pesada, quer seja em equipamentos ou idéias. Quando fomos para o estúdio gravar, os detalhes já vinham sendo discutidos e ensaiados havia tanto tempo que a gravação durou apenas 4 dias.
BF: Uma das diferenças de Absentia para o Umbra foi a entrada de Lippaus na guitarra. Além dessa mudança (ganhando mais em sonoridade e experimentações) quais outras modificações vocês percebem de lá pra cá?
HL: A entrada de um quarto elemento na banda era extremamente aguardada, pois a limitação de um trio, especialmente em apresentações ao vivo, é notória para bandas com um som pesado e carregado em arranjos como o nosso. E o Lippaus foi muito importante também na criação das músicas, complementando as composições com linhas melódicas inéditas para a banda ou mesmo trazendo das suas influências algumas idéias totalmente novas. O Joca foi outro fator transformador do grupo, pois o trabalho de coaching individual que aplicou em nós foi decisivo para moldar a pegada da nova Herod. Outra diferença foi o conceito fechado e claro para todos, sempre encarado como guia e pano de fundo para todo esse projeto, como se a cada momento soubéssemos exatamente o propósito de cada música dentro do conjunto da obra. Alguns veículos têm apontado que deixamos velhas influências de lado, mas não é verdade, pois influências apenas se somaram ao longo destes dois anos, nada foi subtraído, e hoje a Herod é uma banda intelectualmente e musicalmente muito mais madura.
BF: Me chamou atenção a participação dos vocais de Jair Naves, em Limbo e de Felipe Albuquerque em Blinder. Essas músicas originalmente já tinham a ideia de conter letras? Como escolheram Jair e Felipe?
HL: A idéia de convites inusitados sempre nos agradou, e quando compusemos “Limbo”, percebemos que a música era torta e esquizofrênica o suficiente para comportar os vocais do Jair. No final de 2011, abrimos um show dele em São Paulo, e ficamos maravilhados quando ele discursou ao público sobre a “coragem da Herod (então ainda Layne) em fazer sua música torta e incompreendida, por puro amor à sua Arte”. Ao final do show, agradecemos a ele e retribuímos com o convite para gravar os vocais. Mais de um ano depois, já na etapa final de gravação do disco em 2013, marcamos um ensaio para discutir o trabalho. Trocamos algumas idéias de referências, e o Elson indicou a ele um conto do Edgar Allan Poe chamado “O Poço e o Pêndulo”. Já na primeira tentativa de ensaio, a química rolou, e a banda era só sorrisos quando ouvimos o primeiro berro do Jair – o Sacha chegou a largar a guitarra para filmar aquele momento memorável! E no dia da gravação, dos três takes que fizemos, o que valeu foi o último, quando o Jair Naves já estava sem voz, rouco, urrando suas letras.
Com o Filipe Albuquerque foi um processo um pouco diferente, mas tão brilhante quanto o do Jair. A sua banda, Duelectrum, dividiu muitas vezes o palco (e os integrantes) com a Herod ao longo das suas histórias. Quando “Blinder” foi composta, a idéia seria que o Sacha mesmo cantasse as letras que escreveu. Porém, com a sonoridade que a música tomou após a reforma do Joca, percebemos o quanto o timbre shoegazer do Filipe caberia na música. Entregamos o texto para ele já com uma sugestão de linha vocal, mas ele a modificou completamente e tão apropriadamente que tornou a voz o principal elemento da música e enriqueceu demais o repertório do álbum.
BF: Lendo os comentários de uma das divulgações do Umbra, li uma coisa que me intrigou. Uma pessoa disse: “pena vocês terem nascido no país errado”. O que acham dessa afirmação e como é fazer música no Brasil no estilo das composições de vocês?
HL: Não podemos concordar que tenhamos nascido no país errado, afinal estamos indo muito bem na divulgação do nosso trabalho e a receptividade do público tem nos surpreendido positivamente. No entanto, o Brasil é indiscutivelmente um país de tradições musicais muito fortes, com vários estilos populares bem definidos, além de sofrer do monopólio das mídias de mainstream. Fazer música “experimental” neste cenário é um desafio muito maior do que seria submetê-la a um público mais aberto a novos sons, com cultura musical menos constituída. Quando fizemos uma turnê no Canadá, em 2009, pudemos perceber este fenômeno de perto já no momento em que agendamos os shows: bastaram poucos e-mails e tínhamos cinco apresentações garantidas em quatro cidades canadenses. O interesse e o conhecimento musical da platéia também foi muito marcante em nossas performances.
Lidar com as dificuldades no país dá um sabor especial ao nosso trabalho, e procuramos ver a coisa de uma ótica otimista: se levarmos meras 100 pessoas a um show da Herod, teremos a certeza que serão 100 espectadores extremamente interessados e conhecedores da nossa música. E o segredo para alcançar uma crescente exposição tem sido, indubitavelmente, a união e colaboração das bandas independentes para a criação e desenvolvimento de uma cena que vem tomando proporções muito animadoras.
HL: Acho difícil definir uma cena instrumental no Brasil. Acho que acabaria tentando juntar bandas de diferentes estilos somente pelo fato de não terem vocalistas. É um critério frágil. Talvez dê pra teorizar uma cena experimental no Brasil, juntando bandas que procuram quebrar padrões, independente de terem vocais ou não. Nesse sentido, dá pra dizer que existe sim, e a Sinewave meio que tenta jogar uma luz e indicar um caminho. Quanto à música independente em geral, acho que o momento é parecido com o que rola no resto do mundo – um desequilíbrio de oferta muito maior que a demanda. Tem muito mais bandas do que público interessado. Isso torna a sobrevivência de uma banda quase impossível sem um bom emprego bancando as despesas. Mas artisticamente falando, o momento é ótimo, e a quantidade de ótimas bandas sempre aumenta.