Arquivo da categoria: Rock

Espionagem Industrial (2013) – Camarones Orquestra Guitarrística

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Capa Espionagem IndustrialLado A:
1. Como Água no Pescoço
2. Peggy Loucura
3. Espionagem Industrial
4. A Trama
5. Festa dos Gatos
6.Ula-ula
7. Beijar Seus Pés
8. Surfando em Boa Viagem
9. Deleite
10. Bronx
11. Rock de Roqueiro

Lado B:
1. Carnastra
2. Terror em Buzarco
3. Ratazana Radioativa
4. Meu Nome por Aí
5. Baggiones
6. Trilha Invisível

Estamos na metade de 2013, e vários discos brasileiros já foram lançados. Entre eles, diversos da música instrumental; e dentre esses, o Camarones Orquestra Guitarrística, banda  de Natal/RN com 5 anos de estrada, acaba de fazê-lo. O Camarones – como é simpaticamente chamado – é umas das bandas independentes que mais rodou o Brasil e outros países do cone-sul, e chegam a seu terceiro registro: o álbum Espinonagem Industrial, lançado no primeiro semestre de 2013.

Ouvindo os outros discos dos potiguares, em Espionagem Industrial nota-se uma maior amadurecimento das banda. Processo comum, já que as ideias com o tempo ficam mais claras. O rock pesado, com muitas guitarras é quem manda no “Lado A” do disco, abrindo espaço no “Lado B” – com menos faixas – a mais experimentos, abusando de climas e paisagens criadas por sintetizadores e samples. É um disco que deixa claro tudo que influenciou na história e nas composições da banda, além de mostrar o caminho que estão traçando e que podem permear os trabalhos futuros da banda.

O disco foi disponibilizado pela própria banda pra download, e pra ouvi-lo clique aqui!

Além da resenha, fizemos uma entrevista com Anderson Foca, integrante do Camarones e grande produtor e trabalhador da música independente brasileira. Camarones, Espionagem Industrial, cena independente, dentre outras coisas, foram esmiuçadas nela:

Boca Fechada: Contem um pouco da história da banda: formação, influências, discografia, etc.
Andreson Foca: Começamos em 2008 com um projeto do Estúdio dosol, que é onde muitos dos caras que tocam rock na cena potiguar rondam há muitos anos. O plano era tocam com três guitarras temas de  desenhos animados, filmes e afins. Começamos a fazer pequenos shows e o público e a tour começaram a aumentar muito. No fim de 2008 para 2009 já tínhamos festviais importantíssimos na bagagem como Recbeat, Rock Cordel , Dosol entre outros, e ai resolvemos virar um banda com formação fixa. Gravamos nosso primeiro disco em  2010, em 2011 gravamos um segundo e acabamos de gravar o terceiro agora em 2013. Nesse período fizemos mais 300 shows em todas as regiões do país e fomos duas vezes para sulamérica passando por Uruguai e Argentina com vários shows. Basicamente é isso!

BF: Em Espionagem Industrial, percebemos uma melhor direção pra composições: menos experimentações, e as músicas mais concisas e diretas. Como foi o processo de composição e produção do disco, e quais diferenças vocês enxergam dessa disco pros outro trabalhos?
AF: Disco é momento. O primeiro trabalho que gravamos foi uma compilação de composições que tinha quase três anos. No Espionagem passamos um mês compondo todo dia, focados no disco e ficamos bem satisfeitos com o resultado final. Acho que o fato de termos um estúdio próprio e de poder praticamente juntar o processo de ensaios com a gravação facilita muito. Particularmente acho o disco mais diferente que gravamos esse último, o Curioso Caso da Música Invisível. Basicamente nossos discos são visões de mundo, mesmo que não tenha letras e também buscamos temas que a gente curta ouvir e dançar é um misto das duas coisas.

Foto 1

BF: O Camarones é uma das bandas independentes que mais rodou pelo Brasil nos últimos anos. Traçe uma panorama de como está estruturada a música independente no Brasil. Se houve melhora ou piora e que futuro enxergam pa ela.
AF: Acho que o momento continua muito bom para quem tá no rala diário, na vivência da música; e continua com bastante dificuldade pro cara que leva a música mais no hobby, isso se dá porque os espaços não são tão vastos assim, então quem tá mais ligado e focado termina conseguindo mais coisas. O país em si está numa estagnada econômica, nem cresceu nem diminui e todos os setores da economia acompanham isso. Na cultura não é diferente. O momento é bom, mas pode melhorar, vamos ao trabalho!

BF: Existe uma cena instrumental brasileira? Como a música de vocês está conectada com as diversas bandas do gênero, e com a música (instrumental ou não) feita no Nordeste atualmente?
AF: Existe. Principalmente uma cena que se formou fora das academias de música e das escolas. No Nordeste são dezenas de exemplos que fica até dificíl citar. Só em Natal surgiram bandas instrumentais aos montes desde que começamos: Mahmed, Tesla Orquestra, Jubarte Ataca, entre outras. E estamos sempre tocando juntos, dividindo palco e contatos. Bem legal!

Foto 2

BF: A maioria das bandas continuam vindo morar em São Paulo tentar a carreira, mas vocês continuam em Natal. Porque essa escolha de continuar por aí? As dificuldades e facilidades são as mesmas que o “Sul Maravilha”?
AF: Discordo, só a minoria faz isso. Acho bem mais viável para uma banda ficar em casa do que ir prum grande centro tentar se estabelecer (isso como banda). Fora de casa vc tem preocupações que não teria perto da família ou dos amigos (comer por exemplo, ehehehe).  Então sua prioridade passa a ser se sustentar em vez de se focar nas ações com música e cultura. Acho mais fácil fazer isso em casa. Sem contar que estamos a 3 horas de SP ou do Rio, não é necessário morar lá para fazer algum coisa no Sudeste. Acho que o Camarones por baixo tocou quarenta vezes nesses dois estados. Dá para se virar daqui muito bem.

Synesthesia (2013) – The Kandinsky Effect

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cover_[plixid.com]

1.Johnny Utah
2.M.C.
3.Cusba
4.WK51
5.Walking…
6.Brighton
7.Left Over Shoes
8.Lobi Mobi/Hotel 66
9.Mexican Gift Shop
10.Lars Von Trier
11.If Only

Disco que acaba de ser lançado do trio formado pelo norte americano Warren Walker (sax/efeitos) e pelos franceses Gaël Petrina (baixo/efeitos) e Caleb Dolister (bateria/laptop). The Kandinsky Effect está na ativa desde 2007 e, nas palavras da banda, eles são “um trio de jazz pós-moderno à procura de novas maneiras de improvisar dentro da linguagem do jazz, misturando as fronteiras do jazz, rock, música eletrônica, hip-hop e sons experimentais para criar uma voz verdadeiramente singular dentro da música instrumental. A improvisação é sempre presente, e espontaneidade é fundamental.” Para conferir o Synesthesia, é só clicar aqui e ouvir!

 

Mils Crianças (2012) – Hurtmold

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folder1. Naca
2. SNP
3. Hervi
4. Joji
5. Chavera
6. Beli
7. Tomele Tomele
8. Cleptociprose
9. Pigarro

Se o mundo acabar essa semana podemos ir felizes, pois deu tempo de ouvir o quinto (e puta) disco da banda paulistana Hurtmold. Com 15 anos de carreria, tornaram-se ao longo desse período, umas das bandas independentes mais respeitadas e consolidadas da música brasileira. Ficaram 5 anos sem lançar nada e antes do ano – ou o mundo – terminar, saiu o esperado Mils Crianças. Mesmo sem lançar nada sobre a alcunha de Hurtmold, nesses 5 anos os caras não fiacaram parados. Em outros projetos, como MDM, Chankas, M. Takara 3, Bodes e Elefantes, São Paulo Undreground ou acompanhando outros artistas, dentre eles Marcelo Camelo ou a lenda do jazz Pharoah Sanders a marca da banda ficou registrada.

Valeu a pena esperar, pois Mils Crianças mostra que os caras continuam afiadíssimos em suas experimentações. São nove composições inéditas, com a alma da banda, porém com uma consistente escolha de timbres e ritmos mais minimalistas. À primeira audição o disco pode soar mais “fácil”, porém, em entrevista à revista SOMA, os integrantes consideram-no como o “mais difícil” da carreira. É notório o amadurecimento das ideias dos caras; cada elemento, tanto em ritmos e instrumentos, parece mais bem colocado, mais preciso. As músicas estão mais curtas que as composições antigas, justamente pela experiência e diálogo maior que eles travam em suas produções desde 2007, quando lançaram o último trabalho.
Pra ouvir esse discão, clique aqui!

Mutus (EP_2012) – Mutus

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1. Midnigth Shuffle
2. Porcelain
3. Parabolica
4. P&B

Mais uma estréia aqui no Boca Fechada! Dessa vez são os santistas do Mutus, power trio que toca junto há 6 anos e que no início de 2012 resolveu oficializar as jam’s que faziam no estúdio Toca do Tubarão, dando início à sua contribuição pra nova música instrumental brasileira. Mesmo existindo oficialmente há pouco tempo, acabam de lançar o primeiro registro, um EP homônimo com 4 faixas.

O power trio formado por Bruno Bort (guitarra), Ivo Escobar (bateria) e Paula Magário (baixo), tem o rock setentista como principal influência, porém, pitadas de blues, funk e rock progressivo são bastante perceptíveis em suas composições. O som do Mutus, lembra a sonoridade e a timbragem do disco “Artista Igual Pedreiro”, primeiro do power trio Macaco Bong.
O disco foi disponibilizado pra download pela própria banda e você pode ouvi-lo, clicando aqui!

Instrument (1999) – Fugazi

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1. Pink Frost (demo)
2. Lusty Scripps
3. Arpeggiator (demo)
4. Afterthought
5. Trio’s
6. Turisk e Disco
7. Me & Thumbelina
8. Flosting Boy (demo)
9. Link Track
10. Little Debi
11. H.B.
12. I’m so Tired
13. Rend It (demo)
14. Closed Caption
15. Guilford Fall (demo)
16. Swingset
17. Shaken All Over
18. Slo Crostic

Mesmo não sendo um disco totalmente instrumental, a alma da compilação Instrument (Instrument, também é o nome de um documentário sobre o Fugazi, lançado em 1998, que acompanha a carreira da banda entre 1987 e 1997.), lançado em 1999 por uma das bandas mais imporantes do cenário independenete, o Fugazi, é permeada pela ausência de voz, Porém, quando as palvaras aparecem, soam como mais um instrumento, somando-se às doideras e experimentos da banda de Washington, que misturou em seus 15 anos de história, punk, reggae, hard core e funk.

Esses estilos em Instrumet, são levados à um grande diálogo com o noise e diversos experimentos; sempre muito bem estruturados nas tortas melodias e tempos, e nos riff’s marcantes que Ian MacKaye (guitarra e vocal), Guy Picciotto (guitarra e Vocal), Joe Lally (baixo),] e Brendan Canty (bateria) colocam no disco. O espírito punk do Fugazi está além de sua música. A forma de produzir sua carreira também foi inovadora, fazendo shows não somente em grandes casas, mas também em pequenos palcos de “muquifos” do rock alternativo estadunidense.
Ouçam!!

Omar Rodriguez López e John Frusciante (2010)

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1. 4:17 am
2. 0=2
3. LOE
4. ZIM
5. VTA
6. 0
7. 5:45 am

Como dois guitarristas pesados, de bandas como Red Hot Chili Peppers, At the Drive In, Ataxia e The Mars Volta fizeram um disco tão despretensioso, bonito e singelo, como o álbum lançado por Omar Rodriguez Lopes e John Frusciante em 2010? Os dois, com trabalhos reconhecidíssimos de rock no maisntream, fizeram um disco somente com guitarras, sintetizadores e violão. Logicamente, que por trás das cordas e teclas, estão duas das cabeças mais criativas e loucas do rock atual. É um disco de guitarrista, mas não só para guitarristas. Não tem solos e fritações virtuosísticas como vemos por aí nos trabalhos de grandes guitarristas. Tudo que foi construído nas carreiras dos caras, foi musicalmente desconstruído nesse registro.

É um grande diálogo de timbres, melodias bem elaboradas e de belo toque e idéias certeiras; uma bela conversa colaborativa entre dois amigos numa madrugada com aditivos experimentais. O disco foi produzido logo após a saída de Frusciante dos “Chili Peppers“, num ano em que Omar lançou quase uma dezena de trabalhos. Em poucos momentos lembra o trampo dos dois nas bandas que tocaram ou tocam. O que mais se aproxima um pouco são os discos que Frusciante lançou em carreira solo, que, mesmo sendo canções em formato mais pop, muitas idéias dali são perceptíveis nesse álbum. Reza a lenda que outro da dupla ainda pintará.
Discaço!

A Banda de Joseph Tourton (2010) – A Banda de Joseph Tourton

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1. 16 Minutos
2. Lembra o Quê?
3. Aquaplanagem
4. 100m
5.  O Triunfo de Salomão
6. A Festa de Isaac
7. Provolone
8. #3
9. Volta Seca
10. After Work Granja

Primeiro disco (homônimo) da banda recifense de música instrumental “A Banda de Joseph Tourton“, que leva esse nome, no mínimo excêntrico, e, homenagem à rua onde rolaram os primeiros ensaios dos rapazes. Digo rapazes, porque Gabriel Izidoro (guitarra, escaleta e flauta transversal), Diogo Guedes (guitarra e efeitos), Rafael Gadelha (baixo) e Pedro Bandeira (bateria) ainda não chegaram às bodas de prata, mas fazem música de gente grande. A música da “Joseph Tourton” é um grande caldeirão sonoro, pela influência musical dos seus integrantes, que mesmo sendo bem jovens conhecem bastante de boa música.

A primeira idéia quando temos contato com uma banda de Recife é o quão de influência no seu som ela vai ter do manguebeat, isso acontece também com a Banda de Joseph Tourton, principalmente na capacidade que eles tem de captar os sons comtenporâneos, ao mesmo tem que o produzido na segunda metade do século passado, e colocá-los  em sua música, característica que o movimento cultural mais importante da década de 90 tinha e yambém transportava para sua produção. O autodidatismo dos músico transparece nas forma de tocarem seus instrumentos e explorar os ritmos que estão em suas músicas (dub, rock, funk, samba rock, samba e também música nordestina).

Mais uma grande banda, com um grande disco da nova música instrumental brasileira!
Acessem o site dos caras e baixe o disco!

Etiópia (2012) – Sambanzo

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1. o sino da igrejinha
2. xangô
3. tilanguero
4. capadócia
5. xangô da capadócia
6. etiópia
7. risca-faca

A música instrumental brasileira não para de lançar pedras atrás de pedras. O saxofonista Thiago França, músico muito solicitado e ativo nos últimos tempos, acaba de lançar seu novo trabalho; trata-se do disco Etiópia do projeto SambanzoO projeto teve início em 2009 com a gravação e lançamento de algumas músicas, mas segundo Thiago, o projeto ganhou mais corpo nos últimos tempos. E que corpo! O disco é uma mistura fantástica entre ritmos brasileiros, africanos, latinos, com uma alma jazz ao fundo. Nota-se temas relacionados ao samba de gafieira, gênese do projeto, só que evoluido ao experimentalismo reinante nas melodias sinérgicas do sax de Thiago, nas bases e loucuras da banda que o acompanha, acompanhando o experimentalismo que é uma das novas caras da música instrumental brasileira

O disco é uma evolução da música do próprio Thiago, e essa evolução caminha no mesmo sentido da música instrumental brasileira produzida atualmente, com temas mais simples (sem punhetagem) e muito melhor explorados, deixando ouvidos e execução mais livres pra passear entre notas, timbres,melodias e ideías originais. Os músicos do disco são: Marcelo Cabral (baixo), Kiko Dinucci (guitarra), companheiros inseparáveis de Thiago em outros projetos, Samba Sam (percussão), Welington Moreira “Pimpa” (bateria) e o próprio Thiago França (sax tenor). Todas as composições, execeto as músicas 1 e 2 são do saxofonista, e arte também é de Kiko Dinucci e a produção o disco é de Rodrigo Campos, grande compositor e do próprio Sambanzo.
O disco foi disponibilizado pelo próprio Thiago no site do projeto! Aproveite!!

Trocamos uma ideía com Thiago França, sobre Sambanzo, sua particpação em outros projetos, música instrumental e outras cositas. Se liga!:

Boca Fechada: O que significa Sambanzo? O nome também está na estética das músicas? Você lançou algumas músicas em 2010, já com o nome de Sambanzo. Como as vê e hoje e em relação à Etiópia?

Thiago França: “Sambanzo” é uma palavra que eu acho que criei, é a junção de SAMBA + BANZO. A tradução de banzo é a saudade que os negros (escravos) sentiam da África. Pesquisando no Google, descobri que existe uma cidade em Moçambique chamada Rio Sambanzo Pequeno. Quando criei o Sambanzo, no final de 2009, o samba era muito mais óbvio como matriz estética e melódica. Esse projeto é um desdobramento direto do meu primeiro disco, “Na Gafieira”. De lá pra cá a formação mudou bastante e o som também. Gravamos um primeiro disco, em 2009, que está engavetado por uma série de questões. As quatro faixas do SoundCloud são parte desse disco, que tem um total de 13 faixas. Escolhi essas quatro por achar que tinham mais a ver com o que a proposta se transformou pra lançar esse single.
http://soundcloud.com/thiagosax/sets/sambanzo/

BF: Você participa de diversos projetos com grande repercussão nos últimos tempos, e como músico soma com artistas importantes do cenário atual da música brasileira. Como isso influencia em suas composições e no Sambanzo?

TF: Cara, não sei te dizer. Cada projeto que a gente realiza tem vida própria. O Metá é bem próximo do Sambanzo por ter eu e o Kiko, mas ainda assim, são vidas paralelas dentro de um mesmo universo. O trampo do Romulo não tem nada a ver com o Sambanzo, Criolo,  MarginalS, nem com o “Bahia Fantástica “do Rodrigo Campos. O trampo do Criolo não tem nada a ver com Metá nem com o do Rodrigo. O processo de gravação do disco do Gui Amabis e da CéU, também não tem a ver com o Sambanzo, Metá, Rodrigo, Romulo ou MarginalS. O próprio MarginalS, que tem eu e o Cabral, não tem a ver com o Sambanzo. Entende? De alguma forma, acho que tudo isso conversa, mas estou muito dentro pra conseguir enxergar. Talvez, só seja possível daqui um tempo.

O que influencia o Sambanzo são os caras que tocam comigo, Pimpa, Samba, Cabral e Kiko. Eu componho pro Sambanzo, pensando neles, no jeito de cada um. Não adianta você fazer um músico tocar aquilo que ele não entende ou não sente, vai sair forçado. Então acaba rolando um lance meio “tecla SAP”, foco num tipo de composição, faço as músicas pra elas funcionarem com a nossa sonoridade e com o nosso jeitão de tocar. Não sou colecionador de músicas próprias, componho conforme a minha necessidade de tocar. E sem pressa, só desenvolvo uma idéia quando acho que é realmente boa, que possa acrescentar algo único ao repertório. Deixo as idéias azeitando, às vezes, por anos. Fica na minha cabeça um groove, uma frase, etc… e uma hora sai.

Quando eu me dedicava mais ao choro, era diferente. Pra fazer a noite, você precisa de 40 a 60 músicas. Eu compunha muito, mas tudo dentro do mesmo estilo. É um pouco limitado, os caminhos de harmonia são muito rígidos, clichês, e até as variações são clichês. No fundo, as melodias se parecem muito,  não que falte inspiração, mas todas elas têm o mesmo “sabor” porque a espinha dorsal de cada uma já tá pronta. Saca? Com o Sambanzo, eu fujo disso.

E muitas vezes, o que te impulsiona a compor é algo completamente improvável. Pela correria, distância, ou por falta de envolvimento dum músico com um projeto, é muito difícil conseguir ensaiar aqui em São Paulo. Isso me deixava um pouco frustrado. Além disso, eu ficava com raiva quando um músico esquecia a pasta de partitura e não dava pra tocar algum som. Por isso eu comecei a compor nesse esquema de dois acordes, pra não precisar de partitura nem de ensaio, meio de birra, é só chegar na hora e dizer: “ó, essa aqui é um , a harmonia é dó menor e sol com sétima”. E pronto! E foi assim o primeiro show do Sambanzo com essa formação que ficou, sem ensaio, sem partitura, tudo na hora.

BF: Você mencionou que tocou choro antes de enveredar pra esse tipo de musica mais livre, distante da partitura. Essa é uma característica da musica instrumental que vem sendo feita atualmente. Quando tocava choro percebia algum tipo de preconceito dos músicos do choro em relação a essa musica mais livre? Como você enxerga essa musica instrumental feita atualmente no Brasil?

TF: Quando eu tocava choro, samba e forró, sentia uma resistência grande do pessoal contra qualquer tipo de mudança, por menor que fosse. Esse gêneros são muito formatados, tanto pelo lado musical quanto pelo lugar onde acontecem. E existe demanda (ainda bem!) O que acontece é que, a maioria dos músicos começam a trabalhar muito antes de desenvolver a sensibilidade, sem nenhum questionamento artístico, duma forma bastante mecânica, usando modelos prontos. Não acho que era exatamente um preconceito, no sentido de não gostar de nada além daquilo, muitas vezes parecia preguiça, de “mexer em time que tá ganhando”. Assim, qualquer coisa além do formatado é desnecessário ou esquisito. Eu lembro que quando mostrei o EWI (Eletric Wind Instrument, uma espécie de sax MIDI que eu uso bastante no MarginalS), pro pessoal que tocava comigo, eles rolaram no chão de rir, achavam que eu tinha enlouquecido.

 Há uns dez anos atrás, quando todo mundo resolveu gostar de samba e choro de novo, e muito graças a ascensão do forró na classe média durante os anos 90, bastava tocar. A simples execução da música era um assunto. Hoje em dia, o próprio público já sacou que só isso não dá mais. Nesses dez anos, apareceu um ou outro cara tocando bem de verdade, mas tocando coisas que já foram entendidas há muito tempo, sem grandes contribuições. No balanço geral, os grandes caras continuam sendo o Cartola, o Noel, o Nelson Cavaquinho, Pixinguinha, Jacob… A coisa vai ficando cada vez mais engessada e o público cada vez mais ávido por algo novo, não no sentido consumista da coisa, mas no sentido de que as pessoas querem ser surpreendidas.
A música instrumental mais livre ganha cada vez mais espaço por ter frescor de ritmo, estrutura, melodia, harmonia, timbre, instrumentação, texturas e sobretudo dinâmica – caráter mal explorado em outras vertentes instrumentais. Você vai do silêncio ao caos! Há uma riqueza muito maior de nuances dentro de cada música e ela é muito mais visceral por não estar atrelada a nenhum modelo. Tá muito longe do rigor técnico da academia, tá mais próxima ao sentimento, duma vontade mais legítima de tocar.
A intenção, a postura, de tocar é outra também. Você vê os músicos muito mais envolvidos pelo som, rola um transe coletivo entre quem toca e quem ouve. E a gente se leva menos a sério, tem mais espaço pra experimentação. Coincidentemente, os sons instrumentais mais interessantes são feitos por quem veio do rock, do punk… com formações não tradicionais. Aos poucos, mais gente consegue se desvencilhar dos modelos padronizados de música instrumental, e da idéia de que o bom instrumentista é aquele que consegue tocar mais notas por segundo.
No Sambanzo, a elasticidade dos arranjos me interessa muito porque dá liberdade pra todo mundo criar, há mais espontaneidade, o som ganha vida e se torna único. Quando o músico está livre, é possível extrair o que ele tem de melhor.

Mocumentário (2012) – Fóssil

Padrão

1. Áeropostale
2. Secesso
3. Lençóis
4. Missa Nova
5. Marraquexe
6. O Inventor
7. Trip-Charme
8. Esmeralda

Dia de celebração aqui no Boca Fechada! Mais um tijolada do novo instrumental brasileiro. Semana passada, postamos o disco novo do  Mama Gumbo, com uma entrevista de um dos integrantes. Foi sucesso total! Batemos recorde de visualizações e tanto disco como entrevista geraram uma certa repercussão.
Seguindo na mesma linha, hoje é a vez do disco novo do Fóssil , o Mocumentário, que a própria banda disponibiliza pra download em seu site. Os caras são cearenses e estão radicados em São Paulo há cerca de 4 anos, aumentando a grande comunidade de artistas fodas que residem na Babilônia brasileira. Mocumentário é o quarto registro (possuem uma demo, um EP e outro álbum) da banda e a sonoridade distinta entre eles é perceptível, principalmente entre Insônia {La Movimentacion Musicale Intermezzo Minimal} de 2008 e oMocumentário.

O sincretismo entre imagem e som, nas músicas da banda é notado e enaletecido pelos próprios (já fizeram alguns projetos nesse sentido) e nesse registro conseguimos perceber mais esse diálogo, além de, o Mocumentário ser uma espécie de jornada de vida, uma história. O nome significa um tipo de documentário baseado em histórias fictícias, e com a existência de poemas em algumas músicas, recitados por Elisa Porto e por Vitor Colares, um dos guitarristas, essas histórias ganham vida. São trilhas de contos, que mostram a universalidade do som da banda e também, mesmo com migração para São Paulo, um vínculo maior com suas raízes. Recortes de tempo espaço da urbana São Paulo, representados pelo rock, e também lapsos e jornadas até ritmos mais brasileiros, gênese do grupo.

Nessa nova fase, a formação do Fóssil é: Eric Barbosa (guitarra), Vitor Colares (guitarra e violão de nylon), Vítor Blhum (bateria), Rodrigo Colares (escaleta, piano e synth) e  Klaus Sena (baixo) . Mocumentário foi gravado no estúdio Cambuci Roots e produzido pela própria banda, além de contar com uma bela arte gráfica por Nelson Oliveira e Peixaria, coletivo de artes visuais de cearenses e mineiros também radicados em São Paulo.
Pra mais informações sobre o disco, acesse o blog do Fóssil e pra ouvir o Mocumentário, clique aqui!

Mama Gumbo (2004) – Mama Gumbo

Padrão

1.Tyfoid Flamin’ Beat
2.Brubeck “En” Pesadelo
3.Normal Blues
4.Vagarillo
5.Tagina Quebrada
6.Serginfinitus
7.Grizzpack Flunder
8.You Can’t Catch Me
9.Cobalto Dancing
10.Inferno De Lux
11.Chapati
12.Opus Motel

Mama Gumbo é umas das bandas precurssoras da nova música instrumental que surgou na virada do milênio aqui no Brasil. Mais livre de rótulos, “menos chata” e virtuose essa música consegue se aproximar mais do público e da música popular, não se afastando de uma estética refinada e muito experimentalismo.
Todas essas características são encontradas no primeiro álbum do grupo, formado na periferia de São Paulo e que já está há quase dez anos na estrada. Conseguimos perceber nele o jazz  como base das composições e temas, mas nota-se também blaxploitation, música brasleira, música moderna e temas de trilha sonora.

A formação atual do grupo é diferente a do primeiro registro. Hoje, o grupo conta com 4 integrantes (em alguns monetos, já contou com 5): Alex Cruz, com seus temas quentes e psicodélicos nos teclados e paino e Tiago Rigo, que toca baixo no disco e atualmente bateria . João Paulo, o outro músico do disco toca bateria, baixo e guitarra, porém está mais no grupo.
Os 3 fazem a música do Mama Gumbo soar urbana, saída do caldeirão sonoro da capital paulista direto para os cérebros atentos ao bom som.
O Mama Gumbo possue além desse primeiro álbum, outros três:  “Ao Vivo no Cidadão do Mundo” (2007), “Eletroroots” (2009) e o recém lançado “Na Garagem dos Cães (2011). Fontes seguras disseram que o quinto álbum está totalmente pronto e que em breve  ganha as ruas e nossos ouvidos.
“Mama Gumbo” de 2004 foi disponibilizado pelos próprios caras. Pedrada!!