1. Inferno
2. A Ressureição
3. Marta
Temos a satisfação imensa em mais uma vez divulgar um disco da nova safra da música instrumental brasileira, que não para de lançar bandas e trabalhos ótimos. Dessa vez, o lançamento vem da cidade paulista – quase mineira – de Franca: a banda Catexia. Formada sem muitas pretensões na virada de 2011 pra 2012, e com integrantes que já possuem experiências mútuas com música ou não, acabam de disponibilizar pra download seu primeiro trabalho, o EP A Voz do Brucutu, que veem com 3 músicas compostas ainda na fase inicial e de experimentação da banda, quando muitas composições eram apenas anestésico pra vida do guitarrista Lucas Misu.
A banda tem origem parecida com muitas outras da nova cena instrumental (entre elas, A Atmosfera Lunar, também de Franca e instrumental e onde tocam alguns integrantes do Catexia): a universidade, onde várias cabeças inquietas se encontram e fazem a convivência extrapolar o academicismo e futulidade comum no meio, transformando-a em arte, e das boas! A música do Catexia tem o post rock como mola propulsora e o faz com maestria, sinalizando ao gênero uma direção mais éterea. O EP A Voz do Brucutu, acaba de ser lançado e disponibilizado pra download no próprio saite dos caras. A produção ficou por conta de Peu Ribeiro, figura importante da cena independente de Sorocaba/SP, cidade de origem de alguns músicos da banda.
Pra ouvir o disco, clique aqui!
Fizemos também uma entrevista com Renan Ruiz, um dos ingrantes da banda, sobre o projeto, gravaçõe e a música instrumental. Se liga:
Boca Fechada: Como a banda foi formada? Qual a influência da experiência com A Atmosfera Lunar para o Catexia?
Catexia: A origem da Catexia está totalmente subsidiada por uma fase diferente que se passava na vida do nosso guitarrista: Lucas Misu. Era final de 2011, e na minha percepção, eu acredito que o Lucas passava por um momento bem distinto em toda sua vida, no quesito sociabilidade. A gente mora junto a uns 4 anos e nessa época ele ficava trancado horas (muitas horas mesmo) dentro do quarto dele apenas fazendo riffs no violão pra tentar botar pra fora os demônios que sentia (e que provavelmente o incomodavam). Pra chegar até meu quarto eu passava pela janela do quarto dele e durante meses enquanto eu caminhava pra ir dormir (ou ir até o quarto fazer qualquer coisa), sempre ouvia os riffs que ele estava criando. O que eu acho interessante dessa história toda é que o Lucas nunca tinha feito aula de guitarra, nem nada desse tipo. A busca pelas notas, nessa época, eu acredito que funcionasse como uma espécie de válvula de escape pro não surto social. Dessa época surgiram músicas como “Inferno” e “Marta” que estão no EP.
Até que um dia, depois de eu tanto ouvir os riffs, eu convidei ele pra tocar comigo e aí tudo começou a criar mais forma. Começamos a ensaiar só nós dois mesmo e por alguns meses (final de 2011, começo de 2012) foi assim: apenas uma guitarra e bateria. O Alex (baixista) passou na UNESP, e eu o convidei pra morar conosco na nossa republica pois já o conhecia da nossa cidade natal: Sorocaba. O Alex na verdade é baterista (muito melhor do que eu, aliás) e ele não tinha escapatória morando na mesma casa: ficava ouvindo os ensaios que eu fazia com o Lucas. Até que um dia enquanto a gente ensaiava, ele entrou no nosso estúdio Lo-Fi, pegou um baixo que ali estava e começou a tocar junto com a música. Foi lindo demais pra gente e naquele mesmo momento intimamos ele pra tocar conosco. A entrada do Carlos foi quase a mesma coisa, ele chegava do trabalho e nos ouvia ensaiando. Dai até a entrada dele na banda foi apenas um passo.
Agora, quanto a influência da A Atmosfera Lunar na Catexia, eu creio que uma das únicas (senão a única) influência/característica é que até janeiro de 2013, nós todos morávamos juntos. Então essas músicas também são frutos da nossa convivência cotidiana, de conseguir compreender o outro, se escutar, se entender, passar por dificuldades juntos. Pra mim tocar junto sempre foi muito mais do que dividir a técnica da música por sí mesma. Assim, nós dividimos tudo durante 3 anos: casa, cama comida, brigas, espaços, ideias, etc. E foi uma época gloriosa na vida de todos nós, tenho certeza. (A Atmosfera Lunar existe ainda, estamos compondo material novo).
BF: Como foi/é o processo de composição de vocês? Como o disco foi produzido?
C: Nosso processo de composição tem várias facetas. Mas se for pra ressaltar um aspecto, eu diria a repetição. No sentido de que tentamos tocar/ensaiar bastante juntos pra conseguir entrosar (nós mesmo e o som como resultado) de uma forma legal. O que acontece na maioria dos casos é alguém que aparece com alguma ideia/riff e a partir da apresentação para os outros membros, todos começam um processo de lapidação dessa estrutura musical. Esse processo de lapidação consiste em dar mais ideias pessoais para as estruturas da música (todo mundo opinando feito lôco), assim como também tocar bastante junto pra que a novas soluções saiam coletivamente. Devido a maneira como surgiu a banda a maioria das músicas que apresentamos ao vivo hoje são do Lucas, mas já temos apresentado músicas do Alex também, e estamos ensaiando novas do Carlos. Além dessas composições que a gente vai reestruturando, também fazemos muitas ‘jam session’. No show que estamos apresentando não tocamos muitas músicas que fizemos em ‘jam session’ mas eu acredito que elas são primordiais pra nossa relação enquanto músicos. A questão do desenvolvimento da música, do entrosamento: um olhar ali pra outro integrante por um milésimo de segundo e logo ambos concordarem que tudo vai mudar no próximo compasso. Também não estamos tocando muitas das músicas que criamos nas ‘jam’ pois esquecemos a maioria delas mesmo. hahah. Para resolver esse problema estamos com o projeto agora de gravar os ensaios e poder escutar e estudar mais as nossas músicas.
Quanto ao disco, o material foi produzido pelo Pêu Ribeiro lá de Sorocaba/SP que trabalha no estúdio Mústachi. Viajamos até Sorocaba e ficamos por lá uma semana gravando tudo em faixas separadas. Gravação é um processo muito interessante. Você repensa toda sua música, e percebe o déficit de técnica que você tem, haha. De fevereiro até maio o Pêu ficou por lá mixando e masterizando enquanto nós voltamos pra Franca e ainda gravamos mais algumas pistas de guitarra e sintetizadores para conseguir chegar em uma ambiência que a gente queria nesse trabalho de estúdio. Nesse período também trabalhamos em construir o nosso próprio site por onde rola todas as informações da banda e o download gratuito do disco.
BF: Que influências tem os músicos?
C: Me parece que nesses últimos tempos todos da banda tem passado por uma fase de ouvir mais coisas do que costumávamos ouvir. Também me parece que a maioria das coisas que a gente escuta tem vocal. Eu, particularmente, pesquiso academicamente o jazz-fusion instrumental brasileiro do final de 70 começo 80: uma vertente de som que não tem relação direta com nossa música, mas sempre acaba influenciando de uma maneira ou de outra. Citando umas bandas que ouço muito(e não instrumentais), posso dizer o The Mars Volta, Nirvana, Jack White, Jeff Buckley, Queens of The Stone Age, Radiohead, Mew, Iggy Pop, Led Zeppelin, MC5, Sonic Youth, etc. Em contrapartida, estamos bem ligados também nesse pós-rock-instrumental de hoje com bandas muito boas como: Té, Toe, Russian Circles, And So i Watch You From Afar, Jacks Marquise, Explosions in the Sky, Tortoise, Mogway, etc.
BF: Porque música instrumental?
C: Eu acho que o instrumental aconteceu como produto em nossas vidas. Não foi um projeto premeditado. Na minha concepção foi o meio/direção encontrada por nós naquele determinado momento (inicio do Catexia) de conseguir expressar nossas angústias e nossa subjetividade. Tocar é um tesão enorme, mas apesar da internet ser pressuposto no mundo do século XXI e de algumas bandas ‘independentes’ terem uma certa visibilidade, ainda é muito difícil ser artista independente na música hoje em dia no interior de SP. Desde o local pra ensaiar, até lugares para apresentar as composições (o cover é hegemonia) chegando até a distribuição do seu trabalho. Além desse problema estrutural, ter uma banda também é complicado pra gente pois também existe a questão da convivência cotidiana, que acredito ser um divisor de águas indireto pras nossas composições . Entre essas conturbações todas, acho que a Catexia se encontrou no instrumental. Quero dizer: entre a soma dessas dificuldades estruturais e das nossas constantes brigas, a gente acabou encontrando um caminho coletivo dentro da música instrumental.
Mas não é porquê adentramos na estética instrumental sem um projeto prévio que não conhecemos as especificidades desse tipo de música. Como eu disse na resposta anterior, o próprio pós-rock instrumental contemporâneo é, também, uma influência bem importante pra gente. Mas eu acho que se o Catexia pode ser enquadrado nesse pós-rock-instrumental foi mais por uma armadilha do destino do que por um projeto estético nosso. E eu também acho isso bem interessante porquê eu vejo a música que a gente faz como algo que se cria quando não existem mais saídas, quando não se tem pra onde ir, como uma briga com você mesmo. Além disso, eu percebi que todo mundo da banda acabou pesquisando um pouco sobre a música instrumental, por acabar se inserindo no meio. Então, acredito que estamos vivendo hoje sobre uma série de indagações sobre o fazer instrumental-independente hoje no Brasil (senão pelo menos em Franca, haha).
Além de tudo isso, eu particularmente tenho um pouco de medo da música instrumental. Por talvez soar subjetivo demais, de virar apenas técnica(no sentido de estrutura) musical. Eu considero a letra um elemento muito rico pra qualquer artista se expressar, sobretudo na música, onde é possível unir elemento textual com melodia musical, ritmo e entoação. Na Catexia conversamos algumas 2 ou 3 vezes sério sobre colocar vocal, mas não foi/é a nossa saída enquanto banda. Na verdade, em nossas últimas conversas pensamos em colocar 1 ou 2 frases em algumas músicas e repeti-las usando a base alguma melodia, quem sabe essa ideia não vai pra frente e fazemos algo diferente no próximo EP.
BF: Vocês veem a música instrumentam como uma cena?
C: Olha, posso estar falando muita merda, mas eu acho que nunca na história da música surgiu tanta banda instrumental em um determinado país como aconteceu no Brasil pós 2000(talvez 2005): Fóssil, Labirinto, A Banda de Joseph Tourton, Camarones Orquestra Guitarrística, Macaco Bong, Skrotes, Burro Morto, Hangovers, Urso, Aeromoças e Tenistas Russas, Bexigão de Pedra, Tupi Balboa, Eletroeco, Dibigode, Malditas Ovelhas!, 4Instrumental, Vendo 147, The Tape Disaster, ruido/mm, Ubella Preta, Constantina, SOMA, Herod Layne (tocaram com o The Cure a pouco tempo), Mama Gumbo, Bexiga 70, Pata de Elefante, Avec Silenzi, Tigre Dentre de Sabre, Mullet Monster Máfia, Huey, Os Pontas, Buffalo, Mamma Cadela, Hurtmold, Elma e a lista não para. Quase todos os estados do Brasil estão representados pelo instrumental, e muitas bandas viajaram para o exterior já. Se uma quantidade tao grande assim de bandas nao pode ser chamada de cena instrumental, não sei o que poderá ser denominado dessa maneira. Também acho que farão alguns estudos sobre essa movimentação no futuro.