capa por Gustavo Rates
1. Capetinja
2. Mesmo que os amantes se percam, continuará o amor
3. As estrelas não são para os homens
4. Tau zero
5. E a morte perderá seu o seu domínio
6. Dezessete nós
7. Remédio para melancolia
8. A quarta hora
Richard Ribeiro é um dos músicos mais atuantes da cena independente paulistana há no mínimo uns 10 anos. Desde das bandas Debate e Diagonal, aos experimentos com o São Paulo Underground e as canções de Gui Amabis, vem deixando sua marca na música produzida na última década. No meio desse turbilhão sonoro, em 2006 encontrou tempo e necessidade de dar sopro à suas ideias e experimentos. É quando surge o Porto: projeto com poucos elementos – atualmente com Richard e o onipresente Regis Damasceno – e que começa a fazer sentido a partir das primeiras melodias que surgiam na cabeça de Richard. Em 2008 lança o EP Fora de Hora e 5 anos depois surge Odradek, nome retirado das leituras de ficção científica e realismo fantástico do músico e que também são inspiração para suas composições.
Percebe-se o Porto como linguagem para uma tentativa de entender nossa existência e cotidiano, se entrelaçando com leituras, filmes e a participação dos músicos em diversos outros projetos musicais, sendo manifestação da forma de ser e receber as ações interiores e exteriores à nós. Nota-se isso em Odradek pois o disco, mesmo sendo composto por guitarra, bateria (instrumentos ligados ao rock) e vibrafone – além de alguns efeitos de percussão e eletrönicos – é extremamente sensorial e singelo. O diálogo com outros meios de entedimento do todo se materializam nas músicas, deixando os instrumentos e ideias a serviço dessa sensibilidade.
Odradek foi lançado no último 12 de agosto e disponibilizado gratuitamente pra download no site do projeto. (Você pode baixá-lo aqui). Outras informações também estão no site e no perfil do projeto no Facebook.
Junto ao lançamento, Capetinja, música que abre Odredak é destaque no site do Canal Brasil, no progama Evidente. Veja! Essa e as outras composições do disco, serão tocadas ao vivo, amanhã (23/08) no lançamento de Odradek, na Serralheria, espaço bacana demais, localizado em São Paulo. Mais informações, aqui!
Pra celebrar esse grande álbum, conversamos por email com Richard Ribeiro, sobre o Porto, Odradek e outras cositas mais.
Boca Fechada: Conte como surgiu o Porto.
Richard Ribeiro: O Porto surgiu em 2006. Nessa época eu fiquei cada vez mais fascinado com a ideia de fazer musica com poucos elementos, isso me atraiu cada vez mais.
Comecei a fazer as músicas em casa, e aos poucos vi a necessidade de tocar algumas melodias que eu estava compondo pro Porto em algum outro instrumento além da bateria. Foi aí que pensei no vibrafone, pois é um instrumento ritmico e melódico. Então juntei os dois, como uma peça só, e isso fez todo o sentido pra mim.
BF: Desde 2008, época de laçamento do EP Fora de Hora, passaram-se 5 anos. Nesse período o parceiro de projeto e a música produzida sofreu alterações. Como vocë enxerga esses 5 anos de diferença pra história do Porto?
RR: Acho que a concepção do trabalho é a mesma de 5 anos prá cá. O Porto continua sendo um duo de bateria e guitarra. Sonoramente falando pouca coisa mudou. Além dos parceiros musicais serem diferentes, o primeiro disco teve metalofone e o segundo disco gravei vibrafone.
O que realmente trouxe algumas alterações são as coisas que durante esses 5 anos vivi e senti, coisas que nunca havia passado. A vida vai mudando… ela se transforma…vou descobrindo e sentindo coisas novas, e isso se reflete diretamente nas músicas e na história do Porto.
foto de divulgação por Paulo Borgia
BF: Como é o processo de composição e como foi o de produção do Odradek?
RR: O processo de composição é bem sensorial, geralmente longe de qualquer instrumento. Começa com alguma melodia que vem a cabeça, que sugere algo, ou parte de alguma coisa que li, assisti ou vivi, que me emocionou, ou simplesmente parte de algo que não entendi. Aí então busco traduzir isso sonoramente.
Tenho grande identificação com obras (algumas de ficção cientifica) que criam um universo unico, estranho e muitas vezes fantástico, e que de uma forma peculiar acabam aflorando muitos sentimentos e questões humanas. Nesse sentido escritores como Stanislaw Lem, Theodore Sturgeon, Pillip K. Dick e Julio Cortazar sempre foram grande influência pra mim.
Sobre a produção foi tudo muito simples e rapido: gravamos em São Paulo com o Bruno Buarque no estudio dele que se chama Minduca. Todas as musicas estavam prontas, então a ideia foi registrar, como se tirassemos uma fotografia daquele momento. No primeiro dia gravamos todas as musicas, eu e o Regis tocando juntos, na mesma sala. No segundo fizemos alguns overdubs e no terceiro dia ja estavamos começando a mixar o disco.
BF: Você toca e já tocou com diversos projetos e/ou artistas da música brasileira. Como o Porto influencia neles e eles o influenciam?
RR: Não consigo ter uma resposta clara pra isso.
De 5 anos pra cá tive o privilégio de tocar com muita gente que tenho grande admiração. Durante esse tempo, acabei flutuando entre dois circuitos distintos, o da musica popular e o do underground. Isso de alguma forma me influênciou musicalmente. Agora não sei se há uma influência direta do Porto nas musicas dos artistas que acompanho. Cada artista tem sua estética sonora propria, seu universo, sua forma de se comunicar e a primeira coisa que faço é respeitar isso. Então eu busco entender todo esse universo, mergulhar no mundo dele e tocar da melhor forma possivel sua musica.
BF: Existe uma cena instrumental brasileira?Cite bandas instrumentais que você acha legal.
RR: Entendo cena como algo mais amplo, algo que se sustenta, que seja autosuficiente. Nesse sentido não acho que exista uma cena instrumental brasileira. Ao meu ver não há casas de shows o suficiente que divulguem música autoral e nem público que pague por isso.
O que existe são inúmeros artistas fazendo música boa em todo lugar, muitos vem pra São Paulo, pois a cidade da mais oportunidades pra que você divulgue, venda discos e faça shows. Infelizmente ainda existe uma dificuldade imensa de tocar. Vejo cada artista fazendo seu corre do jeito que dá…tocando de vez em quando aqui… ali…
Algumas bandas que fazem musica instrumental de que gosto: Earth, Bobby Hutcherson, Brokeback, Codona, Kevin Drumm, David Axlerod, Gabor Szabo, Jorge Lopes Ruiz só pra citar algumas. Tem muita gente que faz coisa boa por aqui ultimamente como UAKTI, M.Takara, Catatau e o instrumental, Guizado, Bodes & Elefantes, Baoba (Stéreo Clube), Hurtmold, MDM, Objeto Amarelo…