Arquivo da categoria: Avant-Garde

Cabeças que fazem Cabeças#1 – por Rafael Cab

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Reformular, respirar novos ares, experimentar é sempre importante pra nossas ações tomarem outras formas e chegarem a mais pessoas.
Pesando nisso, estreiamos hoje uma nova sessão: “Cabeças que fazem Cabeças”.  A idéia nada mais é que convidar um músico, jornalista, produtor ou simpatizante da música instrumental pra esmiuçar um disco escolhido pelo próprio.
Pra estréia da ideia convidamos o baterista Rafael Cab, procedente de Santo André/SP, músico de vários projetos  (instrumentais ou não) e que também trabalha na área de produção cultural, através do Coletivo Marte.
Vamos à escolha do parceiraço:

Angels and Demonst at Play / The Nubians of Plutonia (1993) – Sun Ra e Myth Science Arkestra
CapaA1. Tiny Pyramids
A2. Between Two Worlds
A3. Music From The World Tomorrow
A4. Angels And Demons At Play
B1. Urnack
B2. Medicine For A Nightmare
B3. A Call For All Demons
B4. Demon’s Lullaby

Aceitei o convite do meu irmão Du pra chegar por aqui e postar um disco, então vamos lá:

Nosso grande amigo Sun Ra e sua (nessa ocasião) Myth Science Arkestra ainda não tinham passado pela área, e como temos trocado muitas ideias esses dias resolvi transmitir o recado da rapaziada pra frente.
Vou falar de um disco só, mas no post você ja descola logo 2 numa tacada (Angels and Demons at play / The Nubians of Plutonia).

Angels and Demons at Play foi originalmente lançado pela obscura El Saturn entre (1963-1967) selo dos próprios Sun Ra e Alton Abraham, que gravavam, produziam, arranjavam, faziam as artes e tudo mais que o role pedia desde 1957 (acho louco imaginar a cena dessa galera nessa época). O disco saiu com 8 faixas, gravadas em sessões diferentes e em anos diferentes, o lado A com músicas de diferentes momentos dos ano 60, no lado B não encontrei muitas informações sobre datas, mas parece que são gravações anteriores, final dos anos 50.

Não sinto a necessidade de uma resenha do disco, quero mesmo é partilhar e cada um que se entenda com a rapaziada da Arkestra. O que posso dizer, de forma mais pessoal, é que o disco me chamou a atenção pelas sobreposições rítmicas do lado A, sempre que ouço imagino um cenário industrial tosco, talvez uma transição entre uma fundição e uma linha de produção. Mas o lado B já é completamente outra história, frenético, esses sons tocados num boteco deviam deixar todos arrebentados, os temas e solos dos sopros são intensos.

Uma aula de como se conectar com a música e seus fluxos cósmicos. Ouça!

Produção – Alton Abraham.

Sun Ra & His Myth Science Arkestra:
Saxofone Alto, Flauta – Marshall Allen
Saxofone Tenor, Sinos – John Gilmore
Saxofone Barítono – Charles Davis
Saxofone Barítono, Saxofone Alto, Flauta – Pat Patrick
Trombone – Julian Priester, Nate Pryor
Trompete – Art Hoyle, Phil Cohran
Contrabaixo acústico – Ronnie Boykins, Victor Sproles
Contrabaixo elétrico – Wilburn Green
Piano, Orgão, Piano elétrico, Percussões – Sun Ra
Timpano, Timbales – Jim Hearndon
Bateria – Robert Barry

A Love Supreme (1964) – John Coltrane

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1.Acknowledgement
2.Resolution
3.Pursuance/Psalm

Há quase 50 anos  um dos maiores artistas do século XX nos deixava; no dia 17 de julho de 1967, a música perdia um dos seus maiores expoentes: o saxofonista estadunidense John Coltrane.

Com o blogue dedicado inteiramente à música instrumental, essa triste data não poderia passar incólume, e para homenagear esse grande gênio da música ocidental, trazemos aqui seu disco mais famoso e emblemático, A Love Supreme. Gravado em 1964, foi um sucesso de vendas na época e um marco na carreira de Coltrane, elevando seu jazz à espiritualidade e sua latente ancestralidade africana. Nesse disco, Coltrane deixa claro o rumo que sua música seguiria em seus ultimos trabalhos realizados até sua morte prematura, aos 40 anos. É um grito de liberdade e retorno às tradições musicais do grande jazzista.
Um dado curioso, é que A Love Supreme foi executado ao vivo uma única vez, em 1965, na França. Felizes os ouvidos que tiveram esse privilégio.

Guardemos Coltrane em nossos sentidos e deixemos ele soar mais vivo que nunca.
Pra ouvir essa é pérola, clique aqui!

Legend (1973) – Henry Cow

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Cover

1. Nirvana for Mice
2. Amygdala
3. Teenbeat Introducion
4. Teenbeat
5. Nirvana Reprise
6. Extract From “With the Yellow Half-Moon and Blue Star”
7. Teenbeat Reprise
8. The Tenth Chanffich
9. Nine Funerals Of The Citizen King
10. Bellycan

Depois de 15 dias sem postar nada por aqui, e pedindo desculpas pra quem acompanha o blogue, voltamos às atividades. Hoje, retomamos à frutífera década de 70, umas das mais inventivas e originais e que ecoa em muito, na música mundial atual. Muitos dos estilos que hoje figuram como vanguarda, foram constituídos e tomaram corpo nos idos de 70. Um deles é o rock progressivo, inventivo de início mas, posteriormente maçante peloo “orgasmo” musical do virtuosismo mas, que originou e consolidou-se na passagem das décadas de 60 para 70.

O Henry Cow, banda inglesa – da cidade de Cambridge – é um desses grupos inventivos, e com apenas 10 anos de existência e 5 discos de estúdio, deixou marcas profundas na música produzida no período. Legend, seu primeiro disco de estúdio e gravado em 1973, trouxe caracteristicas que posteriormente fizeram sua música ser classificada no que se chamou de Avant-progressive rock –  mesmo sendo produzida anteriormente à seu emprobrecimento criativo. O grupo surgiu no final da década de 60, quando alguns integrantes começaram a criar o que seria essa mistura de jazz com a psicodelia criativa do rock do final da década; de início, a música do grupo teve forte influência do blues mas, com passar  do tempo e depois do contato com a música de Frank Zappa,  tomou  caminho mais livre. É essa música criativa e enérgica que encontramos em Legend.
Pra ouvir essa pérola, clique aqui!

Pithecanthropus Erectus (1956) – Charles Mingus

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1. Pithecanthropus Erectus
2. A Foggy Day
3. Profile of Jack
4. Love Chant

Já que hoje se “comemora” o “dia dos mortos”, escolhi uma figura emblemática da música pra homenagear todas as grandes cabeças e corações que deixaram verdadeiras obras primas pra posteridade. Charles Mingus, baixista e grande compositor do jazz, viveu apenas 56 anos, mas deixou grandes feitos pra boa música. Um desses é o disco Pithecanthropus Erectus, de 1956!

Tão emblemático quanto seu “dono”, a bolacha é o puro bepop e avant-garde – duas correntes do jazz pós 1950 – em estado bruto. Há também levadas muito interessantes de cool jazz, mas que em temas como a autobigráfica Pithecanthropus Erectus, que abre o disco e se incia numa levada maliciosa, sofre uma reviravolta, abrindo espaços para experimentações, donde surgem diversas abstrações atonais com todos os intrumentos. São quase 40 minutos de fino de jazz, de um dos maiores do gênero.
Pra ouvir o Mingus, clique aqui!
*senha: flageolette

The Magic of Juju (1967) – Archie Sheep

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1. The Magic of Juju
2.  You’re What This Is Day Is All Aboute
3.  Shazam
4.  Sorry ‘bout Tath

The Magic of Juju do saxofonista norte-americano Archie Sheep expanta a partir do play que você dá. São quase 20 minutos de linhas fodidas de avante-garde, estilo de jazz onde o mais conhecido representante é John Coltrane e música africana, tocadas na primeira faixa por instrumentos percurssivos. Essa é a música atingida pelo saxofonista. A música de Sheep tornou-se esse sincretismo devido à sua proximidade com os movimentos de emancipação negra ocorridas nas décadas de 50, 60 e 70 nos Estados Unidos, leituras de Malcolm X, suas raízes africanas e o próprio rumo que o jazz estava tomando no período, de se misturar com diversos ritmos mundias, principalmente africanos e  orientais, vide Yussef Lateef, Fela Kuti, Mulatu Astakte e o próprio John Coltrane.

Com uma discografia extensa, a partir da década de 70 experimentou outros ritmos como blues, gravou alguns especiais de outros artistas e trabalhou como professor da “University of Massachusetts – Amherst”. As matérias que lecionava eram sobre a música afro-americana e também teatro. Antes de se dedicar integralmente à música, o saxofonista ingressou na faculdade de teatro, porém sem terminá-la. Depois da desistência começou a trabalhar para a Impulse Records e daí iniciou suas parcerias e aproximação com o universo do jazz, tendo particpando das gravações do álbum A Love Supreme, pepita de  Coltrane, lançado no ano de 1964.
Discaço!


Symphony N°6 (Devil Choirs At The Gates Of Heaven) (1989) – Glenn Branca

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Lá vamos nós para demonstrar um desses casos-limite onde as definições se misturam…

Reparem no charme de Glenn Branca

Glenn Branca é um compositor que talvez possamos chamar de erudito, o que equivale a dizer que sua obra tem alguma significação acadêmica ou que, de algum modo, toma parte de uma discussão acadêmica do desenvolvimento musical. Entretanto, somente recentemente (isto é, na segunda metade dos anos noventa) recebeu atenção da academia, sendo contado como um dos membros da escola totalista do pós-minimalismo… Certo, mas e daí?

A questão é que a carreira de Branca não parte da música erudita. Tendo aprendido a tocar guitarra aos 15 aos de idade, Branca começa compondo para o teatro, em performances de grupos dos quais ele fazia parte. Quando se muda para Nova Iorque, em 76, entra em contato com a cena no-wave local (isso mesmo, a mesma cena que deu origem ao Sonic Youth, banda que sofreu forte influência de Branca) tendo participado como membro das bandas Theoretical Girls e The Static.

devil-choirs

Mas é nos anos oitenta que a coisa começa a ficar interessante de verdade: a partir de sua experiência com o no-wave novaiorquino, Branca passa a compor para conjuntos formados basicamente por várias guitarras elétricas e percussão (i.e. bateria), mesclando sua influencia de compositores modernos e pós-modernos (sobretudo LaMonte Young) com uma linguagem “rock” vinda do no-wave, trabalhando com idéias relacionadas ao volume, afinações alternativas, micro-tonalidade, droning e series harmônicas, sendo considerada música de vanguarda ou, como ele mesmo a define, experimental. Suas composições são cheias de tensão ou, mais propriamente, extremamente densas, ao ponto de John Cage tê-la vinculado a idéias de mal e poder chegando a referir-se a ela como ‘fascista’. Mais tarde, Branca chega a compor para instrumentos elétricos criados por ele e até para orquestras convencionais (embora sua música não jamais seja convencional).

É ao conjunto das peças para guitarra elétrica que pertencem a maior parte de suas sinfonias (que não são compostas para orquestra sinfônica e tampouco seguem a forma-sinfonia) e é uma delas que disponibilizo aqui, mais precisamente a de número 6, também chamada de ‘Devil Choirs At The Gates of Heaven’. A versão aqui disponibilizada foi executada por 10 guitarras, baixo, teclado e bateria. O termo sinfonia aqui serve para representar a grandiosidade da obra onde, no correr de seus cinco movimentos, as diversas camadas de guitarra desenham texturas, ritmos e uma diversidade de ruídos unusuais, tudo acompanhado por uma bateria simples e insistente.

São poucas palavras para descrever um trabalho cheio de riqueza e poder, sem dúvida digno de ser ouvido, sobretudo por quem se interessa em saber do que as guitarras são capazes.

Download: Clique aqui