Arquivo da categoria: Instrumental Rock

CaladoNovo#3 – Bexigão de Pedra

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Bexigões

Hiato de duas semanas passado, continuemos com o mote da última postagem, a segunda sessão do CaladoNovo, que trás bandas instrumentais ainda sem registro fonográfico. Dessa vez uma banda que vi nascer em São Carlos, interior de São Paulo: o Bexigão de Pedra, quarteto de amigos que se conheceram cursando Imagem e Som  na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Como a maioria da bandas, começaram a fazer um som sem pretensão alguma, e disso surgiram as primeiras composições.

Os caras tinham dado um tempo desde o meio do ano passado, e recentemente voltaram à ativa com o vídeo que segue. Antes dessa parada estavam produzindo seu primeiro registro, um EP, e acredito que nessa retomada o projeto volte a caminhar. O som do Bexigão de Pedra é calcado no rock psicodélico setentista, misturado ao funk e ritmos brasileiros. A banda tem em sua formação: Cauã Ogushi (guitarra), Subaco Subacowiski (guitarra), Filipe Marreco (baixo) e Victor de la Rosa (bateria). O vídeo que segue, com a música Tute Nostre, faz parte do projeto Porão Sessions, projeto da Pé de Macaco, produtora audiovisual independente também de São Carlos.

CaladoNovo#2 – Gingo

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Muitas bandas instrumentais que começaram suas atividades na década passada aqui no Brasil, estão gerando outras novas bandas do estilo. Músicos que já tocam juntos em outras bandas, ou outros, que já tem certa história em grupos instrumentais (e não só), estão se unindo e começando produção nova, muitas vezes se descolando da sonoridade da “banda original”, e noutras com a sonoridade anterior sendo referência da música que está sendo criada. Um caso emblemático disso são os paulistanos do Hurtmold, que geraram ou seus integrantes se ocupam noutras bandas.

Bom, não é sobre o Hurtmold o post, já que a seção CaladoNovo tem como intuito divulgar bandas instrumentais que acabaram de sair do forno, e que ainda não tem algum disco lançado, Nesse contexto todo, apresentamos aqui a Gingo, banda formada por músicos que já tem essa tal outra história que citei. Gabriel Izidoro, Gustavo Cék, Rômulo Nardes e Hugo Cadaval formaram e/ou tocam em bandas como Bixiga 70, Joseph Touton, Batucada Tamarindo, Pipo Pegoraro, Palmeira Imperial, dentre outras.

O único material da banda lançado até agora é o vídeo que segue, e nele, percebemos que o som da Gingo carrega as referências das bandas que integrantes participam e também norteia algo novo, trazido pela mistura da cozinha batuqieira de bateria, baixo e percussão, com as possibilidade eletrônicas de pedais e sintetizadores e também das linhas de guitarra. Hoje, no Espaço Cultural Puxadinho da Praça, em São Paulo, os caras fazem o debute nos palcos, e por aqui, continuamos no aguardo de mais novidades da banda.

Boom! (2011) – Boom Project Band

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Capa

1. Intro B
2. Boom!
3. Reloginho Safado
4. O Último Trago de Schulz
5. Lobo na Água
6. Purgatório
7. Coisas
8. Indiferente, Groove
9. Dedo Cortado

Boom! é o primeiro (e até agora único) disco da banda paulistana Booom Project Band, formada em 2010 por Chico Leibholz (bateria), Rodrigo Fonseca (baixo), André Zaccarelii (guitarra) e Rosana Oliveira (trompete), e que possui como ideia sonora misturar diferente trilhas instrumentais do funk e da surf music, recebendo carinhosamente pela banda a alcunha de “Surfunk”. Esse sincretismo é notado principalmente pela junção de um baixo funkeado com linhas de guitarra da surf music e do rock setentista.

Além dos dois principais ritmos que conduzem a sonoridade da banda, outros se mostram nas composições de Boom!, como por exemplo na faixa O Último Trago de Schulz, onde a guitarra antes do tema surf que conduz a música como um todo, discorre com competência em melodias simnpatizantes com o jazz africano e ritmos latinos como o bolero. Esse sincretismo sonoro da Boom Project Band é certeiro, principalmente relativo à surf music, ritmo mais ortodoxo e menos passível de mistura, e que na sonoridade da banda é desconstruído e remexido por ritmos mais suingados.

Para ouvir Boom!, clique aqui!

Baobá Stereo Club + M. Takara (2013)

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cover

Lado A:
1 Abre Caminho
2. Grappa
3. Goeldi

LadoB:
1. Adeus (Fidel)
2. Para Moacir

Os paulistanos no Baobá Stereo Club inicaram sua história em 2008, primeiramente como duo guitarra e bateria, e lançando no mesmo ano seu primeiro registro fonográfico, um EP homônimo muito elogiado a época pela crítica. Posteriormente à esse EP ,o duo virou  trio com a entrada do piano em sua formação e lançou  seu segundo trabalho, o disco Álbum de 2010. Baobá Stereo Club + M. Takara é o terceiro registro, e pra esse o trio virou quarteto com a entrada de Maurício Takara (já com notável trabalho  sobre a alcunha de M. Takara, às vezes solo,ora em trio (M. Takara3) além de tocar no Hurtmold, São Paulo Underground e Marcelo Camelo).

Os quatro antes da existência da banda já haviam realizado parcerias, além de no primeiro EP dos paulistanos ter um remix de Takara. Nesse contexto todo, em 2012 o “Baobá” fez uma temporada de shows onde em cada ocasião um músico era convidado, e numa delas Maurício Takara participou, rendendo a ideia do disco conjunto, lançado no 2013. O disco foi lançado digiitalmente e em vinil (por isso o Lado A e Lado B), e conta com cinco faixas que revelam as influências do grupo: música eruditta, jazz, música pop e percussiva. Bateria, guitarra e piano, certeiros na execução do trio, recebem os sintetizadoes e trompete de Maurício Takara pra um diálogo certeiro com a melodia da banda.

Pra ouvir o disco, clique aqui!

 

CaladoNovo#1 – Guava Jelly

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guava jelly

A ideia do blogue sempre foi de divulgar a música instrumental para um maior número  de pessoas. Começamos lá em 2009 apenas postando discos, depois inciamos as entrevistas, e por último foi a vez de começar a convidar pessoas ligadas ao estilo pra escolher algum disco ou obra da música sem palavras pra falar sobre. Pensando esses dias no que postar nessa semana, senti falta de falar sobre bandas que ainda não tem álbum lançado mas que já possui algum registro. Com isso em mente, resolvi apostar no inicio de outra ramificação: a Calado Novo, trazendo bandas já com vida, mas sem nada em sua discografia. A ideia pode-se expandir dentro desse conceito e também colocar na roda singles de bandas com uma estrada maior (como sempre abertos a experimentações por aqui).

Pra estreia, resolvi falar de uma banda que tive a oportunidade de estar presente nos dois primeiros shows de sua história: o Guava Jelly, criada em Araraquara, e que pra essas apresentações convidou uma banda que faço parte pra dividir a noite. O trio formado é por Fred Gomes (guitarra), Heraldo Pimentel (baixo) e Fernando Neves Chin (bateria),  e alguns dos integrantes possui uma trajetória de tempos na cultura jamaicana do reggae e dos sound system’s, cultura muito presente no interior paulista. Esse o norte da sonoridade do Guava Jelly: música jamaicana, principalmente dub presente nos delays e reverbs da guitarra e bateria e no peso pesadíssimo do baixo, isso tudo misturado à belas pitadas de funk e rock, guiadas pelas melodias da guitarra, com referências de música eletrônica, notadas em alguns riffs e na certeira utilização de samples e efeitos.

O Guava Jelly possui até agora três músicas lançadas, que você pode ouvir aqui e alguns vídeos onde dá pra conhecer o trabalho dos caras. A banda já fez algumas apresentações pelo interior de São Paulo e ficamos por aqui no aguardo dos próximos lançamenos do trio.

HAB (2013) – HAB

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capa hab

1. Bugio
2. Conduz
3. Cratera
4. Suco
5. Em Tempo
6. Três Lados

Tô pra postar esse álbum desde que, infelizmente, tive que dar um tempo no blogue, no finzinho do ano passado. Pelos contratempos bons e ruins da vida, fiquei impossibiltado e deixei passsar (por um tempoi) esse belo disco, já que o lançamento do mesmo coincidiu em quando a atividade por aqui diminui. O HAB, projeto encabeçado pelo guitarrista Guilherme Valério, iniciou sua história no ano passado, cheguei a ver um dos primeiros shows, no Mundo Pensante, espaço na cidade de São Paulo, e que naquela noite abrigou um show intenso, com bons temas sendo executados por um time de respeito. Além de Valério, já atuante na música independente, a banda tem Maurício Takara (ao vivo Thiago Babalu) e Marcos Gerez ambos do Hurtmold, e na outra guitarra, Marco Nalesso, há tempos com trabalho na música instrumental, principalmente via Marco Nalesso e a Fundação (antes Marco Nalesso Big Band).

Nesse show disseram estar em processo de produção do primeiro disco, o próprio. Senti pela apresentação que o disco não deixaria a desejar, como fez. São  seis faixas que já dizem muito, principalmente pelo preciso diálogo das guitarras, seguro pela cozinha concisa de Takara e Gerez. Os timbres chamam atenção à primeira audiçao, e foram muito bem escolhidos, soando com precisão junto às dissonâncias que aparecem em muitos momentos na linhas de guitarra, tornando a sonoridade uma mistura de pós rock e pós punk com melodias e ritmos da música brasileira. Sempre que ouço o disco lembro da extinta banda paulistana Veracidad, existente entre fins da década de 90 e início dos dois mil, que fazia um som com influências semelhantes ao HAB.

Pra ouvir o disco, clique aqui!

Luz Além (2012) – Mel Azul

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cover1. Ar
2. Dum Ohm
3. Assoalho Cubano
4. Caminhante Ambulante
5. IndoVindo
6. Interestelar
7. Súbita Calma

Há cerca de quatro ou cinco meses, os paulistanos do Mel Azul pintaram aqui no blogue com o primeiro trabalho do grupo, o EP homônimo de 2011. Na época do post, o disco Luz Além ja tinha sido lançado, mas achei mais interessante segurá-lo e falar primeiro sobre o EP, além de sacar melhor o desenvolvimento das ideias. Bem, chegou a hora do Luz Além, disco pesado que conta com 7 composições do quarteto paulistano, que além de nos abrilhantar com belos temas,  possui um trabalho de produção artística extremamente profissional, explorando as narrativas musicais que a música da banda possui e colocando isso em prática através de outras linguagens.

O disco lançado ano passado é extremanete denso, com as experimentações dosadas sob medida. Há momentos de delicadeza sublime, elevando espiritualmente a música, e outros, onde as andanças noise desconstroem a melodia que havia sido executada. A sonoridade, o timbre, continuam soando bem setentista, mas as ideias, que no EP se colocavam mais nos ritmos, nesse estão mais nas abstrações e nas dinâmicas dos instrumentos.  Há o explorar dos ritmos psicodélicos, mas no Luz Além a essência é a psicodelia.
Pra ouvir o Luz Além, clique aqui!

Recentemente, o Mel Azul lançou um clipe da música Caminhante Ambulante:

Chorume da Alma (2011) – Pig Soul

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Capa1. Intro (11)3142212X
2. Chorume da Alma
3. Koentro
4. Raño
5. Romanza
6. L’Amour
7. Wa A Api Vini
8. Cocktail
9. Epílogo
10. Talking Waves

O release do Pig Soul, banda residente de São Paulo capital, já diz tudo: “Vale tudo. Da improvisação livre à nerdice dodecafônica e espectral. Tudo com a veia roquenrol dos integrantes, ligados ao Progressivo e ao Metal. É jazz, é salsa, é louco. Acima de tudo é Rock!” Resume bem: é louco e acima de tudo é rock! Um rock pesado, recheado de experimentações da primeira à última faixa. Em tempos que as bandas de rock tem postura e produção mais preocupadas com a imagem que a sonoridade, o Pig Soul leva o rock à outros terrenos, digamos que mais…fritos! Viaja com o jazz, rebola com o samba e mexe com a salsa mas, sem perder a ternura.

A banda paulistana é formada por músicos experientes que tocam ou tocaram (juntos ou não) em outros projetos mui interessantes – o Eletrogroove, banda formada em Campinas e que tem dois integrantes que hoje formam o Pig Soul é uma delas. Em 2011, lançaram seu único registro até então, o disco Chorume da Alma. As composições são densas e vagam com tranquildade nos ritmos citados. O “espírito de porco” de Daniel Brita (guitarra e trombone), Gustavo Boni (baixo), Luiz André “Gigante” (bateria) e Rafael Montorfano “Chicão” (sintetizador e piano) incorporou e remexeu a caxola no rock.
Pra ouvir essa pedrada, clique aqui!

Umbra (2013) – Herod Layne

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cover1. Penumbra
2. Collapse
3. Limbo
4. Blinder
5. Lumia
6. Silêncio
7. Antumbra
8. Umbra

Trazendo por aqui mais um lançamento da nova safra da música instrumental brasileira.  Já comentei anteriormente que o momento do gênero é muito massa no Brasil. Bandas novas surgem de baciada, discos são gravados com qualidade, e estilos musicais distintos dentro da música instrumental dão o tom do momento. Nesse contexto, ainda na primeira década do século XXI, na Babilônia pauista surgiu o Herod Layne. De início um trio, e posteriormente um quarteto, os caras acabam de lançar Umbra,  novo álbum que conta com diversas participações, maturou-se quase dois anos pra sair do forno e teve um belíssimo trabalho de produção.

A Herod Layne lançou em 2010 o disco Absentia, e de lá pra cá, além de diversos shows pelo Brasil, trabalharam na produção de Umbra.  O período que ficaram trabalhando no disco, rendeu um belo e formoso fruto. Umbra é um disco muito maduro. Calcado no post rock, pos metal, drone e noise, as experimentações do quarteto estão concisas e as faixas dão uma noção narrativa ao disco. As 8 faixas de Umbra estão muito bem  amarradas à temas soturnos e pesados que parecem nos levar aos lados e momentos sombrios de toda existência.

O disco foi disponiblizado na semana passada pra download, e você pode ouvi-lo, clicando aqui!

Pra coroar o lançamento de Umbra, trocamos uma idéia (via email) com o Herod Layne. Segue o papo:

Boca Fechada: Como foi o processo de produção de Umbra? Desde a idéia do crowd-funding, até o lançamento no ultimo dia 5?
Herod Layne: Umbra teve uma gestação de dois anos e alguns meses, se considerarmos as primeiras idéias e riffs criados. Na verdade, esse tempo longo se deve ao fato que, num primeiro momento, concebemos o álbum da maneira tradicional que sempre fizemos com os outros discos, e chegamos a um ponto de maturação suficiente para gravação da pré. Neste momento, criamos, desenvolvemos e disponibilizamos nossa própria plataforma de crowd-funding, o Buzzker, que nos trouxe bom retorno financeiro para seguirmos com um projeto ainda mais ousado: decidimos então não lançar o material gravado e envolver um produtor no trabalho. O Joaquim Prado, que já era nosso amigo de longas datas, surgiu na hora exata para topar esse convite. Aí foi quando de fato o Umbra que viria a ser lançado começou a tomar forma. O Joca desconstruiu não só os arranjos e as composições, mas a própria banda e seus equipamentos, e começou um processo minucioso de estudo e reconstrução com base no conceito do álbum. Foram levadas em consideração as influências musicais de cada membro, seus gostos em relação a timbragem e melodias, sua aptidão e conforto técnico com o instrumento e apetrechos… A banda se renovou e ressurgiu mais poderosa e pesada, quer seja em equipamentos ou idéias. Quando fomos para o estúdio gravar, os detalhes já vinham sendo discutidos e ensaiados havia tanto tempo que a gravação durou apenas 4 dias.

BF: Uma das diferenças de Absentia para o Umbra foi a entrada de Lippaus na guitarra. Além dessa mudança (ganhando mais em sonoridade e experimentações) quais outras modificações vocês percebem de lá pra cá?
HL: A entrada de um quarto elemento na banda era extremamente aguardada, pois a limitação de um trio, especialmente em apresentações ao vivo, é notória para bandas com um som pesado e carregado em arranjos como o nosso. E o Lippaus foi muito importante também na criação das músicas, complementando as composições com linhas melódicas inéditas para a banda ou mesmo trazendo das suas influências algumas idéias totalmente novas. O Joca foi outro fator transformador do grupo, pois o trabalho de coaching individual que aplicou em nós foi decisivo para moldar a pegada da nova Herod. Outra diferença foi o conceito fechado e claro para todos, sempre encarado como guia e pano de fundo para todo esse projeto, como se a cada momento soubéssemos exatamente o propósito de cada música dentro do conjunto da obra. Alguns veículos têm apontado que deixamos velhas influências de lado, mas não é verdade, pois influências apenas se somaram ao longo destes dois anos, nada foi subtraído, e hoje a Herod é uma banda intelectualmente e musicalmente muito mais madura.
Herod 02

BF: Me chamou atenção a participação dos vocais de Jair Naves, em Limbo e de Felipe Albuquerque em Blinder. Essas músicas originalmente já tinham a ideia de conter letras? Como escolheram Jair e Felipe?
HL: A idéia de convites inusitados sempre nos agradou, e quando compusemos “Limbo”, percebemos que a música era torta e esquizofrênica o suficiente para comportar os vocais do Jair. No final de 2011, abrimos um show dele em São Paulo, e ficamos maravilhados quando ele discursou ao público sobre a “coragem da Herod (então ainda Layne) em fazer sua música torta e incompreendida, por puro amor à sua Arte”. Ao final do show, agradecemos a ele e retribuímos com o convite para gravar os vocais. Mais de um ano depois, já na etapa final de gravação do disco em 2013, marcamos um ensaio para discutir o trabalho. Trocamos algumas idéias de referências, e o Elson indicou a ele um conto do Edgar Allan Poe chamado “O Poço e o Pêndulo”. Já na primeira tentativa de ensaio, a química rolou, e a banda era só sorrisos quando ouvimos o primeiro berro do Jair – o Sacha chegou a largar a guitarra para filmar aquele momento memorável! E no dia da gravação, dos três takes que fizemos, o que valeu foi o último, quando o Jair Naves já estava sem voz, rouco, urrando suas letras.
Com o Filipe Albuquerque foi um processo um pouco diferente, mas tão brilhante quanto o do Jair. A sua banda, Duelectrum, dividiu muitas vezes o palco (e os integrantes) com a Herod ao longo das suas histórias. Quando “Blinder” foi composta, a idéia seria que o Sacha mesmo cantasse as letras que escreveu. Porém, com a sonoridade que a música tomou após a reforma do Joca, percebemos o quanto o timbre shoegazer do Filipe caberia na música. Entregamos o texto para ele já com uma sugestão de linha vocal, mas ele a modificou completamente e tão apropriadamente que tornou a voz o principal elemento da música e enriqueceu demais o repertório do álbum.

BF: Lendo os comentários de uma das divulgações do Umbra, li uma coisa que me intrigou. Uma pessoa disse: “pena vocês terem nascido no país errado”. O que acham dessa afirmação e como é fazer música no Brasil no estilo das composições de vocês?
HL: Não podemos concordar que tenhamos nascido no país errado, afinal estamos indo muito bem na divulgação do nosso trabalho e a receptividade do público tem nos surpreendido positivamente. No entanto, o Brasil é indiscutivelmente um país de tradições musicais muito fortes, com vários estilos populares bem definidos, além de sofrer do monopólio das mídias de mainstream. Fazer música “experimental” neste cenário é um desafio muito maior do que seria submetê-la a um público mais aberto a novos sons, com cultura musical menos constituída. Quando fizemos uma turnê no Canadá, em 2009, pudemos perceber este fenômeno de perto já no momento em que agendamos os shows: bastaram poucos e-mails e tínhamos cinco apresentações garantidas em quatro cidades canadenses. O interesse e o conhecimento musical da platéia também foi muito marcante em nossas performances.
Lidar com as dificuldades no país dá um sabor especial ao nosso trabalho, e procuramos ver a coisa de uma ótica otimista: se levarmos meras 100 pessoas a um show da Herod, teremos a certeza que serão 100 espectadores extremamente interessados e conhecedores da nossa música. E o segredo para alcançar uma crescente exposição tem sido, indubitavelmente, a união e colaboração das bandas independentes para a criação e desenvolvimento de uma cena que vem tomando proporções muito animadoras.
Herod 04

BF: Vocês estão totalmente ligados ao selo Sinewave. Como enxergam o momento atual da música independente brasileira e acham que existe uma cena música instrumental no Brasil?
HL: Acho difícil definir uma cena instrumental no Brasil. Acho que acabaria tentando juntar bandas de diferentes estilos somente pelo fato de não terem vocalistas. É um critério frágil. Talvez dê pra teorizar uma cena experimental no Brasil, juntando bandas que procuram quebrar padrões, independente de terem vocais ou não. Nesse sentido, dá pra dizer que existe sim, e a Sinewave meio que tenta jogar uma luz e indicar um caminho. Quanto à música independente em geral, acho que o momento é parecido com o que rola no resto do mundo – um desequilíbrio de oferta muito maior que a demanda. Tem muito mais bandas do que público interessado. Isso torna a sobrevivência de uma banda quase impossível sem um bom emprego bancando as despesas. Mas artisticamente falando, o momento é ótimo, e a quantidade de ótimas bandas sempre aumenta.

Horizonte#1 (2013) – Aos Maníacos Símeis

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cover1. NNO
2. NO
3. ONO
4. Off-Off #1
5. OSO
6. SO
7. SSO

Desde a virada do milënio e a maior democratização no acesso aos bens de produção em música,  em todos os cantos do mundo, e claro, do Brasil, surgem artistas e bandas dos mais diversos gêneros. Com a música instrumental não é diferente. Nesses 13 anos de século XXI, muitas bandas do Brasil todo surgiram para o cenário, e uma das cidades que mais se destaca nesse gênero é São Carlos, no interior de São Paulo. Localizada a cerca de 240km da capital, a cidade é marcada por ter originado ou hospedado diversas bandas importantes da música instrumental brasileira mais recente: Pantomine Jazz, The Dead Rocks, Malditas Ovelhas! e Aeromoças e Tenistas Russas, são bons exemplos.

Cria desse movimento interessante feito na cidade, o Aos Maníacos Símeis, na ativa desde 2010, lançou a pouco seu primeiro registro: o disco Horizonte#1, pelo recém criado selo Caesar Simia Records. O registro é um bootleg divido em 7 faixas e gravado ao vivo.  É como uma fotografia do grupo, já que as faixas são de total improviso. O Aos Maníacos Símeis, mais que uma banda é um coletivo de improviso, e as “músicas”, assim como seu show, dificilmente serão ouvidos novamente. Os improvisos de Horizonte#1 indicam os elementos que compõe o laboratório símio maníaco: post rock, noise e experimentações lo-fi com timbres, pedais e osciladores.
Interessante trabalho desse coletivo instrumental, que podemos ouvir, clicando aqui!