1. Sou Toda Nanuk (feat Axial)
2. Descanso de Terra/Elevador Low-Fi (feat Chico Correa e Eletronic Band)
3. Deuses Mutados (feat Independência ou Marte)
4. Hiperlúdio (feat M. Takara e Filipe Doranti)
5. Leste (feat Axial)
6. Painter Joe (feat Orquestra Experimental da UFSCar)
7. Pequeno Monte Mágico (feat. Constantina)
Jovem Palerosi é músico, produtor e dj, e acaba de lançar seu primeiro disco solo: o EP Mouseen. Jovem trabalha com música, produzindo, diivulgando, discotecando ou tocando desde o meio da década passada. O primeiro trabalho que realizou dentro da música, foi apresentando o programa Independência ou Marte (programa semanal da Rádio UFSCar voltado à música independente), que foi start pro EP, já que a música Deuses Mutados foi produzida a partir de samples de artistas que se apresentaram no programa durante o período que ele dividiu a frente do projgrama. Os samples dos artistas da música independente brasileira são o norte do disco, pois além da faixa Deuses Mutados, todas as outras músicas do disco dialogam e foram compostas a partir de recortes da produçôes recentes dos novos artistas da musica brasileira.
O EP desconstrói a música eletrônica, pela gênese das músicas, e pela estética que expõe bem as nuâncias da música feita atualmente no Brasil.
Pra ouvir o Mouseen, clique aqui!
Fiz umas perguntas pro Jovem Palerosi, sobre o Mouseen, samples, música eletônica e outros trabalhos que ele realiza.
Boca Fechada: Como foi a produção do “Mouseen” e como é seu processo de composição?
Jovem Palerosi: O Mouseen nasceu de um laboratório de linguagem que venho me dedicando há algum tempo. Foi a junção de músicas que venho trabalhando dentro de um conceito de investigar a linguagem eletrônica e o universo de samples, descontrução e processamento, sem se prender a um estilo pré-determinado. Por isso o nome, que é a base da palavra música e mosaico. Cada música tem sua história particular, mas em geral, parto de fragmentos sonoros que tenham algum sentido para mim, por alguma ligação sensorial ou emocional. A maioria dos artistas que sampleei são parceiros que me influenciam de alguma forma. Acho que essas colaborações diretas ou indiretas foram os pontos de partida para encontrar motivações e me dedicar a esse processo de composição que não tem muita regra, é mais instintivo e empírico mesmo.
BF: O EP tem bastante texturas e samples, principalmente de bandas independentes brasileiras. Como foi a escolha dos artistas e dos samples de cada um; e como você vê esse debate dos samples e direitos autorais?
JP: Faz um bom tempo que tinha vontade de produzir músicas que utilizassem samples de diferentes músicas e artistas. Pra mim o processo de gravar, editar, recortar e processar faz tanto parte de uma composição quanto uma progressão melódica, a harmonia e o ritmo. A primeira música que produzi nesse conceito e entrou no disco chama Deuses Mutados, foi um desafio pessoal de samplear alguns artistas que tinham gravado no programa Independência ou Marte da Rádio UFSCar, que co-pilotei durante uns cinco anos.
Depois que consegui unir fontes tão diferentes em uma música nova percebi que esse processo poderia ir bem longe. Na verdade o programa, o trabalho na rádio e depois em coletivos foram uma grande escola para aprender e desenvolver meus conceitos em relação a cultura digital/cultura livre, acreditar no código aberto do processo todo.
A nossa geração já se formou com as possilidades infinitas da internet, pra mim é mais do que natural todos os conceitos serem revistos depois disso. O Creative Commons deveria ser o padrão hoje em dia, para incentivar todos terem acesso aos bens culturais sem restrição nenhuma, aí cada artista decide o que mais pode ser feito. As licenças dão muitas possibilidades, pra mim, quanto mais aberto os direitos, mais possibilidades vão ser criadas e consequentemente novas obras artísticas surgirão. O Mouseen é fruto disso diretamente, de artistas que já pensam a arte sob uma nova lógica, de deixar suas músicas abertas para serem modificadas. Grande parte das músicas surgiram de convites ou idéias de parceiros que me instigaram a produzir e foi interessante ter alguns desafios naturais do processo pra me instigar. Quem tiver interesse, no meu soundcloud tem a história específica de cada música do disco.
BF: Você tem e já realizou outros trabalhos. Queria que falasse um pouco deles, como eles influenciaram o Mouseen, e se ele reflete nos outros trabalhos.
JP: A maioria dos artistas que conheço hoje em dia tem diferentes projetos. Acho que é quase um processo natural das formas de cada um se expressar e se manter renovado. No meu caso, nos últimos anos tenho me dedicado a algumas formas de expressão que estão em diálogo direto com algumas coisas que estão no Mouseen. A maior parte de meu trabalho nascem de idéias instrumentais, com alguma relação direta ou indireta com artes visuais, trilha sonora e narrativas sensoriais. Então todos eles se contaminam o tempo todo, pois estão em um mesmo fluxo.
A meneio por exemplo é uma banda instrumental, as composições possuem um outro processo, os shows também, mas por outro lado tem cada vez mais uma relação muito próxima com algumas sonoridades eletrônicas, samples e processamento.
O trabalho que tenho como DJ e as colaborações ao vivo com alguns parceiros que admiro muito como o Felipe Julián (DJ Craca/Axial) e o Chico Correa, que inclusive são sampleados no disco, também estão em diálogo com esta linguagem que está no Mouseen, é uma forma de se aprender constantemente com cada experiência.
E com certeza o trabalho de trilha sonora acaba estando presente de alguma forma. O som e imagem já estão conectados em nossa mente, acredito que seja intrínseco que as linguagens dialoguem. Ter feito a trilha do longa-metragem Delírios de um Cinemaníaco e outras experiências em curtas, por exemplo, abriu muitas possilidades em minha mente.
E acredito que a relação com as artes visuais influenciam tanto quanto as musicais, por isso todos esses trabalhos tem uma relação forte com o campo da imagem, seja dentro do conceito dos sons, na identidade visual, na relação com os VJs ao vivo, entre outras coisas.
BF. O disco foi lançado por um site japonês. Como foi essa história? Vai ser lançado somente em plataforma digital?
JP: Quando decidi que iria lançar um EP com essas produções que tinha feito nos últimos anos achei que seria necessário distribuir de alguma forma que tivesse sintonia com a forma que penso Nos últimos 10 anos surgiram diversos netlabels que trabalham em Creative Commons, distribuindo livremente as músicas como um pressuposto político/artístico, me identifiquei bastante com isso. Pesquisando algumas possilibidades gostei muito do trabalho da Bump Foot, que é um selo japonês. Eles tem uma curiosidade grande pela música brasileira contemporânea/eletrônica, o primeiro disco do Chico Correa por exemplo é o mais baixado por lá. Assim que terminei o disco enviei para eles e acharam que tinha a ver, depois agendaram a data para o lançamento, algo simples e direto, mas muito interessante porque diminui o caminho para um público grande que já se identifica com essas sonoridades. Gradualmente vou subindo em outras plataformas e deve ganhar formato físico também. Acho que a música não pode ter nenuma barreira pra chegar nos diferentes públicos, acho que esse é o grande desafio hoje em dia.
foto: Fran Rockita
BF: Mouseen é um disco de música eletrônica. A música eletrônica é algo muito abrangente e bem segmentada em estilos, nomenclaturas, etc. O que você acha dessas classificações e vê sua música em alguma delas?
JP: Acho que dá pra classificar o Mouseen como um disco de música eletrônica principalmente pelo processo de produção que tem o computador como base na composição, além, é claro, de algumas sonoridades que ele tem. Acho interessante terem as nomeclaturas para se entender certos tipos de sons eletrônicos, muita gente produz tendo um estilo em mente, mas não foi meu caso. Apesar de ter influência de muitas coisas, não pensei muito sobre isso durante a produção de cada música e acho que não consigo classificar elas juntas em algum gênero pré-estabelecido.
Na real prefiro mais pensar sobre as sensações de cada música do que sobre como classificar elas. E por ser um processo remix mutante, ao vivo por exemplo alguns sons já mudaram bastante, o improviso e as possilidades de recombinação abrem muitas possibilidades.